SILVIO OSIAS
Convidada especial da nova turnê de Chico Buarque, Mônica Salmaso tem uma das mais belas vozes da música brasileira
Publicado em 05/09/2022 às 7:43
Quem primeiro anunciou foi o crítico de música Mauro Ferreira, em sua coluna no G1. Em 2022, dizia Mauro, Chico Buarque sairá novamente em turnê e terá ao seu lado, como convidada especial, a cantora Mônica Salmaso (Foto/Lorena Dini/Divulgação). Ninguém queria confirmar, alguns desconversavam, mas era verdade. Está aí. Nesta terça-feira (06) e nesta quarta-feira (07), começa por João Pessoa, no Teatro Pedra do Reino, Que Tal um Samba?, a nova turnê de Chico Buarque, e Mônica Salmaso estará com ele.
Paulistana, 51 anos, 25 de carreira contados a partir do primeiro álbum, Mônica Salmaso é uma das grandes cantoras do Brasil. Não consigo ouvi-la sem pensar assim. A beleza do timbre, o domínio da técnica, a emoção na medida certa, a emissão perfeita - tudo é de altíssima qualidade na sua performance vocal, seja nos registros feitos em estúdio e transformados em discos, seja nas apresentações ao vivo.
No DVD comemorativo dos 70 anos de Edu Lobo, lançado em 2014, o compositor, ao apresentar a cantora, diz que a voz de Mônica Salmaso é uma das mais bonitas entre todas as que ele ouviu em sua vida. É especialmente comovente o momento em que Edu e Mônica cantam Valsa Brasileira. Ele, a contemplar a imensa beleza da voz dela. Ela, encantada com o grande autor que está ali ao seu lado.
A discografia de Mônica Salmaso começa em 1997 com um desafio: regravar Os Afro-Sambas, de Baden Powell e Vinícius de Moraes. Essa pequena coleção de canções é momento de excepcional singularidade e de pura invenção. O disco original, de Baden e Vinícius, é de meados dos anos 1960. A releitura de Mônica foi arranjada para voz e violão por Paulo Bellinati, que acompanha a cantora em todas as faixas.
Na discografia de Salmaso, podemos destacar os dois discos dedicados ao cancioneiro de Chico Buarque, Noites deGala, Samba na Rua e Noites de Gala ao Vivo. Neles, quem acompanha Mônica é o grupo Pau Brasil, formado por excelentes músicos: o maestro Nelson Ayres ao piano, Paulo Bellinati (violão), Teco Cardoso (sax e flautas), Rodolfo Stroeter (baixo) e Ricardo Mosca (bateria e percussão).
Outro trabalho extraordinário de Mônica Salmaso: Corpo de Baile, álbum que reúne músicas compostas em parceria por Guinga e Paulo César Pinheiro. Quando o show homônimo passou por João Pessoa, em 2016, escrevi o seguinte: "Uma valsa, uma modinha, uma marcha-rancho, um fado, um bolero, um tema nordestino. A tradição e a contemporaneidade. O popular e o erudito. Ou o popular tratado com felicíssima erudição. Um Brasil menos ouvido. Algo que a gente viu em Villa-Lobos, ou em Tom, ou em Edu, ou em Hime. E vê em Guinga, autor de melodias refinadas, mestre nas harmonias do seu instrumento. Aliado à poesia de Paulo César Pinheiro".
Depois de Corpo de Baile, Mônica (tendo Nelson Ayres ao seu lado) voltou a João Pessoa para dar início a uma feliz parceria com o Quinteto da Paraíba. Com belíssimo recital, passou pela série Quinteto Convida, o que, a partir de 2018, geraria novos shows em várias cidades. A voz de Salmaso e as cordas do Quinteto da Paraíba se harmonizaram com absoluta perfeição num programa enriquecido pelas deliciosas histórias que a artista adora contar entre uma música e outra.
Há também a Mônica camerística nas duas versões de Alma Lírica Brasileira. Dessa vez, com o piano de Nelson Ayres e os sopros de Teco Cardoso. Teco, com quem é casada, pai do seu filho Teo. Em Caipira, revisita um repertório ao qual nem sempre se faz justiça. Em Japan Tour 2019, se debruça sobre o cancioneiro de Guinga, com quem fez a turnê. Em Estrada Branca, registro ao vivo, Brasil e Portugal se encontram nas vozes de Mônica e José Pedro Gil, que miram as obras de Vinícius de Moraes e José Afonso. Tudo primoroso.
O disco mais recente de Mônica Salmaso, lançado há pouco, é dedicado à parceria de Dori Caymmi com Paulo César Pinheiro. O lançamento praticamente coincidiu com o período de ensaios para a turnê de Chico Buarque. Por tudo o que já mostrou nos seus 25 anos de carreira, em estúdios e palcos, Mônica se credenciou como a voz certa para estar ao lado de Chico. Nós, que acompanhamos e respeitamos profundamente o seu trabalho, sabemos da beleza que ela levará ao show desse gigante da música popular do Brasil. E imaginamos o quanto ela está feliz como convidada especialíssima da turnê de Chico Buarque.
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A última faixa do álbum Carioca, que Chico Buarque lançou em 2006, é Imagina. A melodia dessa valsa, muito provavelmente, é a primeira composta por Antônio Carlos Jobim. Um tema instrumental que, somente muitos anos depois, ganhou a letra de Chico. É muito difícil cantá-la corretamente - tarefa que Chico dividiu com Mônica Salmaso na gravação do álbum Carioca.
Nesse vídeo, trecho do documentário Desconstrução, temos Chico Buarque, Mônica Salmaso, Daniel Jobim (neto de Tom) e Luiz Cláudio Ramos no estúdio durante os preparativos para a gravação de Imagina.
Agora, o dueto de Imagina com Chico e Mônica, tal como está registrado no álbum Carioca. E uma pergunta inevitável: será que Imagina está no set list da nova turnê de Chico Buarque?
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