SILVIO OSIAS
Dar o furo é coisa muito antiga. Melhor é falar em exclusividade
Publicado em 02/03/2020 às 6:25 | Atualizado em 30/08/2021 às 20:38
Vou falar sobre o presidente Jair Bolsonaro, sim, mas, antes, um breve papo sobre furo, furo de reportagem.
Comecei no jornalismo em 1974.
Naquela época, dar o furo era uma expressão muito usada.
Furo de reportagem - o veículo saía na frente dos outros numa informação factual ou, por exemplo, na investigação de um caso policial.
Todos queriam dar o furo, mas os jornalistas mais qualificados, aqueles que tinham texto melhor, os que eram mais modernos - esses já viam na expressão uma certa cafonice.
Não cabia no vocabulário deles.
Melhor falar em exclusividade.
Melhor ter exclusividade.
Exclusivo!
Ou: fulano de tal falou com exclusividade ao veículo A ou B.
Conotação sexual?
Não tinha!
A repórter deu o furo.
A repórter quer dar o furo.
Isso não!
Que coisa grosseira!
Quem deu essa conotação, quem fez insinuação sexual contra a jornalista da Folha foi o presidente Jair Bolsonaro, sob aplausos absurdos de um grupo de apoiadores.
O presidente "bateu" em Patrícia Campos Mello, da Folha.
O presidente "bateu" em Vera Magalhães, do Estadão.
Bolsonaro não devia fazer insinuações contra as pessoas.
Mas as redes sociais são terríveis, e o presidente também andou provando o gosto delas, o veneno delas - as insinuações.
Que tenha equilíbrio para enfrentá-las.
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