SILVIO OSIAS
De Collor a Dilma: 24 anos é muito pouco para um novo impeachment!
Publicado em 31/08/2016 às 7:03 | Atualizado em 31/08/2021 às 7:46
Para os da minha geração (sou de 1959), o impeachment entrou em nossas vidas durante o caso Watergate, no segundo mandato do presidente americano Richard Nixon, na primeira metade da década de 1970. O desfecho, todos conhecem: Nixon renunciou para não sofrer o impedimento.
Está tudo muito bem contado no filme "Todos os Homens do Presidente", de Alan Pakula. Boa aula de história contemporânea. Obrigatório para nós, jornalistas.
O impeachment do presidente Fernando Collor, em 1992, trouxe o tema para o nosso lado. O primeiro presidente eleito pela via direta depois do golpe de 64 perdeu as condições de governar e foi retirado do poder numa articulação que ia da esquerda (José Genoíno) à direita (RobertoCampos).
Tudo foi mais rápido e mais simples do que o processo de impeachment da presidente DilmaRousseff. Collor ficou só, com uma diminuta tropa de choque. Entre a votação na Câmara e o afastamento, se passaram três ou quatro dias. Três meses depois, veio o julgamento final. Na abertura da sessão do Senado, foi lida a carta renúncia do presidente, mas esta não impediu a condenação.
No dia 29 de dezembro de 1992, antes de saber da renúncia de Collor, o Brasil soube do assassinato da jovem atriz Daniella Perez, ocorrido na noite anterior. O crime dividiu os espaços da mídia com o impeachment.
Na noite de 29 de dezembro, enquanto o Senado julgava o presidente, a Rede Globo exibiu o especial com o reencontro de Antônio Carlos Jobim e João Gilberto, que não tocavam juntos desde a Bossa Nova,
Somente 24 anos se passaram e estamos outra vez às voltas com um impeachment.
O intervalo de tempo entre Collor e Dilma, do ponto de vista da História, é muito curto. Mesmo que tenhamos maturidade democrática para o que está ocorrendo, e ainda que se concorde com a saída dela, não é saudável banalizar um instrumento como o que está sendo utilizado para tirar Dilma do poder.
Em 1992, eu tinha 33 anos. Hoje, tenho 57. Nunca pensei que viveria para testemunhar outro impeachment no Brasil.
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