SILVIO OSIAS
Debate desta quinta-feira na Globo é o mais importante desde o Lula e Collor de 1989
Publicado em 29/09/2022 às 7:05
Lembro como se fosse hoje. Pouco antes do primeiro turno da eleição presidencial de 1989, no Jornal do Brasil, Ricardo Noblat disse em sua coluna que havia cheiro de Lula no ar. O jornalista intuía que era Lula, e não Brizola, que disputaria o segundo turno contra Fernando Collor. Ele estava certo.
O primeiro turno foi realizado no dia 15 de novembro. Lula passou ao segundo turno com uma vantagem mínima sobre Brizola. Enfrentaria Collor no dia 17 de dezembro. Brizola, que queria ser presidente desde antes do golpe de 64, apoiou Lula, a quem chamou de "sapo barbudo". Propôs que seus eleitores engolissem o "sapo barbudo".
Quando o segundo turno estava se aproximando, Noblat voltou a avisar no Jornal do Brasil: "Tem cheiro de Lula aí de novo". Lula, de fato, ia bem na campanha, até que, a quatro dias da eleição, no horário gratuito, levou um golpe abaixo da cintura. A entrevista de Miriam Ribeiro, com quem tivera uma filha, tirou o candidato do prumo.
O golpe final ficou para a quinta-feira, 14 de dezembro. Collor e Lula se enfrentaram no debate transmitido pela Globo, e Lula revelou que ainda não sabia a diferença entre uma fatura e uma promissória. Collor, de fato, venceu o debate, e ainda foi ajudado pela edição nos telejornais do dia seguinte, mea culpa que a Globo já fez.
O segundo turno foi no domingo, 17 de dezembro de 1989. Na primeira eleição direta para presidente depois do golpe de 64, ironicamente, venceu - para usar a definição de Brizola - um "filhote da ditadura". Havia várias opções, mas o eleitor não ficou com nenhuma entre os que lutaram contra o regime militar.
Saio do modo memória e pulo para esta quinta-feira, 29 de setembro de 2022. Estamos a três dias do primeiro turno da eleição presidencial. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o presidente Jair Bolsonaro lideram a disputa. As pesquisas indicam que Lula pode vencer no primeiro turno, mas que também pode haver o segundo.
Repassando a história dos debates presidenciais realizados de 1989 a 2018, aquele entre Collor e Lula ficou como o mais importante, o único realmente decisivo. Lula enfrentou Serra em 2002, e Alckmin em 2006, mas nenhum reservou tantas emoções ao eleitor quanto aquele confronto da noite de 14 de dezembro de 1989.
Na noite desta quinta-feira, veremos o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o presidente Jair Bolsonaro (além dos candidatos que se mostram pouco competitivos) frente a frente na Globo, a tela de maior audiência da televisão brasileira. Segundo as pesquisas, Bolsonaro estacionado com pouco mais de 30 por cento. Lula, beirando os 50.
Nem sempre um debate é decisivo. Mas o de hoje pode ser porque há um candidato - Lula - lutando pelo voto útil, diante da possibilidade de liquidar o jogo já no primeiro turno. Com fortes acenos ao centro, Lula representa o jogo democrático possível no Brasil. Na extrema-direita, Bolsonaro é a voz da barbárie e do golpismo.
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