Demi Lovato anuncia nas redes sociais que é uma pessoa não binária. Você sabe o que isso quer dizer?

Nesta quinta-feira (20), abro espaço na coluna para texto da mestra em Linguística Luísa Gadelha, que escreve sobre literatura e é editora do site Zona da palavra.

DECISÃO DE DEMI LOVATO LEVANTA OPORTUNO DEBATE SOBRE SEXO E GÊNERO

Luísa Gadelha

Demi Lovato, artista da área musical estadunidense de 28 anos de idade, anunciou na manhã desta quarta-feira (19), em suas redes sociais, ser uma pessoa não binária. Mas o que isso significa?

Com base nos estudos feministas e de gênero, tentarei explicar de maneira sucinta. 

Primeiramente, temos que diferenciar dois conceitos, que normalmente são vistos como um só: sexo e gênero. O sexo é uma categoria biológica, determinado no nascimento a partir dos órgãos genitais e reprodutivos. Embora existam pessoas intersexo, usualmente o sexo biológico é visto como uma classe binária, composta por dois polos: masculino e feminino. O gênero, por sua vez, é um conceito culturalmente construído, cujas características podem variar de acordo com a cultura e a sociedade em que se vive. 

Como a nossa sociedade ainda vê os dois conceitos atrelados, costuma-se associar os gêneros feminino e masculino aos seus respectivos sexos. Gênero, contudo, como afirma a filósofa Judith Butler, é performance, isto é, ele é definido pela maneira como você se veste, gesticula, fala e se comporta. Assim, a grosso modo, associamos, por exemplo, maquiagem, salto alto e bijouterias ao gênero feminino e roupas folgadas e atitudes menos expansivas ao gênero masculino. Quando essas várias características se combinam, podemos ressignificar os gêneros, que podem ser fluidos, passando por várias gradações entre os espectros masculino e feminino.

Assim, independentemente do sexo com o qual nascemos, podemos performar uma variedade de gêneros e, até, mesmo, nos identificarmos com um gênero distinto do nosso sexo biológico. É o caso de Demi Lovato. Lovato anuncia agora ser uma pessoa não binária, isto é, não quer ser identificada como homem nem como mulher; não se reconhece como pertencente a nenhum destes gêneros e passa a adotar os pronomes neutros they/them – em português, elx, el, els, dependendo da nomenclatura utilizada. El afirma ter chegado a essa conclusão após um longo processo de cura e auto-reflexão – por isso, é tão importante discutirmos construções de gênero em nossa sociedade; tais debates promovem e provocam reflexões de autodescoberta e nos estimulam a distinguir o que é inato do que é culturalmente aprendido.

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Luísa Gadelha é graduada em Letras, mestra em Linguística pela Universidade Federal da Paraíba e doutoranda em Estudos Literários e Feministas pela Universidade do Porto. Servidora da UFPB, também escreve sobre literatura e é editora do site de poesia Zona da palavra. Tem poemas publicados em revistas brasileiras e portuguesas.