SILVIO OSIAS
Dia Mundial do Rock é um grande equívoco
Data comemorada no Brasil toma como referência o Live Aid de 1985.
Publicado em 15/07/2025 às 8:13

No domingo passado, 13 de julho de 2025, muita gente comemorou o Dia Mundial do Rock. Apesar do "mundial", é uma data comemorada no Brasil.
O brasileiro Dia Mundial do Rock toma como referência o Live Aid, festival realizado pelo músico Bob Geldof em 1985, há, portanto, exatos 40 anos.
Claro que o Live Aid de 1985 foi um grande evento, mas não deveria ser tomado como referência para a criação de um Dia Mundial do Rock.
Vejo pelo menos três outras datas para o Dia Mundial do Rock. Se ficarmos em festivais, nada supera Woodstock, naquele fim-de-semana de agosto de 1969.
Outra data crucial para a história do rock é o cinco de julho de 1954. Foi quando, no pequeno estúdio da Sun Records, em Memphis, Elvis Presley (voz e violão), Scotty Moore (guitarra) e Bill Black (contrabaixo) gravaram That's All Right.
Para muita gente, aquele cinco de julho de 1954 marca a própria invenção do rock'n' roll. Elvis Presley, aos 18 anos, cantando That's All Right seria a síntese perfeita do rhythm and blues dos pretos com o country & western dos brancos.
Uma outra data é o nove de fevereiro de 1964. Foi quando os Beatles cantaram pela primeira vez no Ed Sullivan Show, em Nova York, e, vistos por uma audiência de 70 milhões de americanos, começaram a conquistar o mundo.
Mas falemos um pouco sobre o rock, esse fenômeno musical que mexeu com comportamento, show business, indústria do disco, cinema, moda, política, religião. Mexeu até mesmo com a música popular do mundo! (rsrsrs)
Rock'n' roll é uma coisa, rock é outra - nos ensinava o jornalista Roberto Mugiatti em O Grito e O Mito, aquele livrinho fundamental que lemos na primeira metade dos anos 1970. O segundo é a expansão do primeiro.
Se quisermos escolher a figura mais icônica e individualmente poderosa do rock, ficaremos com Elvis Presley. Ele compreendeu que, com a fusão da música dos negros com a dos brancos, produziria algo palatável num país que ainda hoje separa os homens pela cor da pele. Fez com muito talento e uma grande voz.
O rock fez do século XX o século da guitarra. Lá nos primórdios do fenômeno, foi Chuck Berry que inventou riffs incríveis e disse mais ou menos assim: "Guitarra no rock? É desse jeito que se toca!". E era! Há outros, mas Elvis e Berry podem resumir os anos 1950.
Os anos 1960 - os mais criativos - têm muitos nomes que operaram a tal expansão do rock. Nos Estados Unidos e no Reino Unido. Em primeiríssimo lugar, há os Beatles. Esses são absolutamente hors concours. É impossível, contudo, falar em grupos sem mencionar os Rolling Stones, que seguem na estrada há mais de 60 anos.
Voz feminina? É a de Janis Joplin, a despeito da carreira meteórica de três ou quatro anos. Um músico de trajetória igualmente meteórica escreveu a gramática definitiva para o principal instrumento do rock: o guitarrista Jimi Hendrix.
Os elementos riquíssimos da black music americana estão condensados nos poucos discos que gravou e nas muitas performances ao vivo que, felizmente, foram gravadas para a posteridade em seus concertos na Inglaterra e na América.
E há aquele cara que veio da folk music e da protest song, com um violão, uma gaita e uma voz excessivamente anasalada. Depois, empunhou uma guitarra Fender e disse que também era do rock. Bob Dylan, claro!
Bob Dylan fez 84 anos há pouco, em 24 de maio. Foi ele que deu um Nobel de Literatura ao rock. Conferiu à letra de música popular o status de poesia culta. Não é pouco.Muita coisa boa foi feita depois, mas ficarei por aqui.
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