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SILVIO OSIAS

Digamos que a democracia venceu, mas ainda é cedo para tanto otimismo

Publicado em 10/01/2023 às 11:54


                                        
                                            Digamos que a democracia venceu, mas ainda é cedo para tanto otimismo

Raiva, sim. Revolta, sim. Indignação, sim. Mas, talvez, principalmente, tristeza. São palavras que traduzem o que sentimos depois dos ataques bolsonaristas de domingo (08) ao Palácio do Planalto, ao Supremo Tribunal Federal e ao Congresso Nacional. Numa brevíssima entrevista à GloboNews, na noite desta terça-feira (09), no momento em que deixava o prédio vandalizado do STF, o vice-presidente Geraldo Alckmin falou em tristeza. É bom contraponto a um duvidoso otimismo muito difundido no dia seguinte aos ataques, associado à ideia de que a democracia venceu.

Nos últimos dias, falou-se muito em simbolismo, simbologia. Símbolos são coisas pequenas que falam sobre coisas grandes, dizia minha mãe. Simbolismo, simbologia, símbolo - são boas palavras. No domingo da posse, vimos o presidente Lula subir a rampa do Palácio do Planalto conduzido por representantes (representações) do povo brasileiro. Uma imagem inédita e com uma força simbólica extraordinária. Lula subindo a rampa com o povo, uma tradução daquilo que milhões de brasileiros, felizmente, ainda sonham para o Brasil.

Símbolos positivos versus símbolos negativos. Vamos aos negativos. Há o plenário do Supremo completamente destruído. Há o homem defecando dentro de um gabinete. Há os retratos dos ex-presidentes espalhados pelo chão, depois de arrancados da galeria onde estavam. Há o relógio de Dom João VI quebrado e atirado ao solo. Há o painel de Di Cavalcanti danificado. Para mim, o que fizeram com o painel é, provavelmente, o símbolo mais assustador dos ataques. Sim, porque fala sobre a violência da invasão em si e fala também sobre a ignorância e a truculência dessa gente, seu absoluto desprezo pela cultura, pela história, pela memória nacional.

Depois dos ataques do domingo, vieram as reações das forças democráticas na segunda-feira. O afastamento do governador Ibaneis Rocha pelo ministro Alexandre de Moraes, a necessária detenção das centenas de pessoas que estavam no acampamento em Brasília, o desmonte dos acampamentos espalhados pelo país, a reunião de Lula com os governadores, ministros e presidentes das duas casas legislativas - são fatos muitíssimo relevantes a destacar. A imagem mais simbólica - positivamente simbólica - da segunda-feira foi a travessia puxada por Lula pela Praça dos Três Poderes (Foto/Reprodução Twitter), entre o Palácio do Planalto e o Supremo Tribunal Federal.

No domingo da posse, Lula subia a rampa ao lado do povo brasileiro. Nove dias depois, o presidente iniciava, no alto da rampa, uma caminhada com os representantes máximos do Judiciário e do Legislativo e com uma inédita adesão dos governadores, inclusive bolsonaristas como Tarcísio de Freitas, Cláudio Castro e Romeu Zema. Foi forte, foi bonito de ser ver. Foi expressão de um otimismo imprescindível nesse momento. Se pensarmos, porém, no otimismo com verdadeira tradução da realidade, e não como algo simbólico, aí seremos tomados de novo por um sentimento de tristeza que é inevitável nessa dura reconstrução da democracia brasileira.

Imagem ilustrativa da imagem Digamos que a democracia venceu, mas ainda é cedo para tanto otimismo

Silvio Osias

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