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SILVIO OSIAS

Dr. Fernando! Redenção foi minha primeira telenovela!

Francisco Cuoco morreu nesta quinta-feira, 19 de junho de 2025.

Publicado em 20/06/2025 às 7:22


				
					Dr. Fernando! Redenção foi minha primeira telenovela!
Foto/Reprodução.

Francisco Cuoco saiu do estúdio da TV Cabo Branco, depois de ser entrevistado no programa Paraíba Meio-Dia, e caminhou pelo corredor da emissora. Eu estava na redação, vi quando ele passou, fui atrás e disse: "Dr. Fernando!".

Ele atendeu ao chamado, olhou pra mim e ouviu o resto da frase: "Redenção foi minha primeira telenovela!". Cuoco me deu um abraço e respondeu: "Muito obrigado!".

Isso foi no final da década de 1990, ou no começo dos anos 2000, não lembro exatamente. Francisco Cuoco estava em João Pessoa para encenar uma peça num pequeno teatro que o Sesc mantinha ali no Cordão Encarnado, perto do centro.

Esse brevíssimo encontro - com um cumprimento bobo de quem o admirava - foi a primeira lembrança que tive de Francisco Cuoco ao saber da morte desse gigante da teledramaturgia brasileira, nesta quinta-feira, 19 de junho de 2025.

Quando Redenção começou, em maio de 1966, eu estava a alguns dias de completar sete anos. Quando terminou, em novembro de 1968, eu já tinha feito nove anos. Creio que foi a novela mais longa da televisão brasileira. Quase 600 capítulos.

Francisco Cuoco era Dr. Fernando, médico forasteiro numa pequena cidade chamada Redenção. Tenho vagas lembranças da trama. Penso que Dr. Fernando casou com uma moça pobre do lugar, Ângela, que morreu após o desaparecimento do filho bebê.

Francisco Cuoco era de uma geração de grandes nomes do teatro brasileiro. Tinha formação e atuou no histórico Teatro Brasileiro de Comédia, o TBC. Pelo palco do TBC, passaram outros gigantes da dramaturgia brasileira. Gente como Fernanda Montenegro, Paulo Autran e Cacilda Becker. Gente que foi parar na televisão e no cinema.

Francisco Cuoco era um garoto pobre nascido na cidade de São Paulo, em 1933. Cuoco abriu mão do sonho de ser advogado para estudar numa escola de arte dramática que faria dele um artista amado por milhões e milhões de brasileiros.

Essa arte tão nobre de atuar, quase sempre a partir do palco de um pequeno teatro, produziu figuras - homens e mulheres - que são verdadeiros símbolos do que o Brasil tem de melhor. Francisco Cuoco era um desses símbolos.

Francisco Cuoco tinha 33 anos quando Redenção, da TV Excelsior, começou. Dr. Fernando é a primeira lembrança que tenho dele. Mas foi na TV Globo, na década de 1970, que veio a consolidar a dimensão que manteve por toda a sua vida de artista.

"Dinheiro na mão é vendaval..." - assim começa o samba impecável de Paulinho da Viola. Pecado Capital botou a música que Paulinho compôs às pressas na memória afetiva de milhões de brasileiros. E, junto com esse samba, a figura do taxista Carlão.

Pecado Capital, de 1975,foi escrita por Janete Clair. Também foi concebida às pressas para entrar no lugar de Roque Santeiro, interditada pela censura do regime militar. Roque Santeiro era de Dias Gomes, comunista histórico, com quem Janete era casada.

Francisco Cuoco, o taxista Carlão envolvido com uma grana esquecida em seu carro, tinha uma noiva, Lucinha, personagem de Betty Faria, que, mais tarde, seria atraída por Salviano, personagem de Lima Duarte. Pecado Capital parou as noites brasileiras entre novembro de 1975 e junho de 1976.

Noveleiros ou não noveleiros, não há quem não tenha visto Francisco Cuoco na televisão. Sua história, com os tipos que criou, se confunde com a história do Brasil do seu tempo.

A teledramaturgia, de que foi protagonista, faz parte da vida brasileira, sobretudo a da TV Globo, a despeito do que dizem tantos dos seus quase sempre equivocados críticos.

O Carlão de Pecado Capital talvez seja o personagem de Francisco Cuoco preferido por nove entre dez pessoas que viram as telenovelas da década de 1970. Não é o meu. O meu Francisco Cuoco predileto é o Herculano Quintanilha de O Astro.

"Minha pedra é ametista, minha cor o amarelo..." - dizia o bolerão de João Bosco e Aldir Blanc que tocava na abertura de O Astro. Outra vez, Francisco Cuoco fazendo um tipo criado por Janete Clair. Um tipo que oscilava entre o bem e o mal.

Não tinha preço ver Francisco Cuoco contracenando com Dina Sfat. E havia ainda o Salomão Hayala de Dionísio Azevedo. Todos, gigantes em cena.

O personagem de Dionísio Azevedo foi assassinado, e a pergunta "quem matou Salomão Hayala?" parou o Brasil. Do mesmo modo que ocorreria uma década depois com "quem matou Odete Roitman?", em Vale Tudo.

A morte de Francisco Cuoco faz a gente pensar na história da telenovela, na importância da teledramaturgia sonhada e tornada realidade por Roberto Marinho, traz a lembrança de tanta gente que atuou na frente e por trás das câmeras.

Dr. Fernando, Carlão, Herculano Quintanilha. Com maior ou menor atenção, vi um bocado de telenovelas. Quem não viu? Elas não seriam o que foram sem gente da dimensão de Francisco Cuoco. Tarcísio Meira, Glória Menezes, Lima Duarte, Fernanda Montenegro, Othon Bastos, Tônia Carrero - essa lista não tem fim. Cuoco está nela. Essa lista deve nos orgulhar porque ela é parte imprescindível do talento brasileiro.

Foto/Reprodução

Silvio Osias

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