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SILVIO OSIAS

É triste, mas o Brasil sem memória deletou Sérgio Ricardo

O grande compositor morreu há cinco anos, em julho de 2020.

Publicado em 24/07/2025 às 7:38


				
					É triste, mas o Brasil sem memória deletou Sérgio Ricardo
Foto/Divulgação.

A imagem que ilustra a coluna nesta quarta-feira, 23 de julho de 2025, é do documentário Uma Noite em 67. Estou lembrando de Sérgio Ricardo porque faz cinco anos que a covid o levou. Mas lembro sempre, porque sempre ouço sua música.

O nome de batismo é João Mansur Lutfi, paulista de Marília, filho de libanês. O nome artístico, Sérgio Ricardo. Pianista, compositor, diretor de cinema.

Com raríssimas exceções, o público de hoje não o conhece. Dos ouvintes do seu tempo, acredito que são poucos os que continuam a ouvi-lo.

No disco que lançou em 1973, as 10 faixas confirmam a beleza do trabalho deste músico que começou na bossa nova e dela saiu para um repertório de canções engajadas.

Fez sambas refinados, como bom bossanovista, e incursionou pela música nordestina, algo surpreendente para um artista com sua formação e sua origem.

Faz Escuro, Mas Eu Canto era o nome do show de Sérgio Ricardo com o poeta Thiago de Mello, que vimos no Teatro Santa Roza nos anos 1970. O título dizia tudo. O homem que compôs Zelão cantava o que era possível naquele tempo.

No meio do show, surpreendia o público com o Hino à Bandeira. Como se dissesse que o Brasil era maior do que o momento histórico em que vivíamos. A ditadura passaria, e permaneceria a beleza do hino que fala do afeto que se encerra em nosso peito juvenil.

Dom José Maria Pires estava na plateia, e Thiago de Mello jogou uma rosa para o arcebispo. As músicas do disco de 1973 estavam no set list daquele recital.

Tenho muitas lembranças de Sérgio Ricardo. A mais remota é a do episódio de Beto Bom de Bola, no Festival de MPB de 1967. Foi ali que o vi pela primeira vez. Irritado com as vaias, o músico quebrou o violão, atirou o instrumento na plateia e foi eliminado.

A história está no documentário Uma Noite em 67. Mas prefiro outras lembranças: das muitas audições em discos e das poucas vezes em que pude vê-lo no palco.

Melodista inspirado, letrista sensível, intérprete marcante, Sérgio Ricardo está presente com seu talento de autor e sua bela voz na música popular que os brasileiros produziram nos anos 1960 e 1970, mesmo que nunca tenha obtido grande sucesso.

Sérgio Ricardo não gravou muito. Na sua discografia, a qualidade se sobrepõe à quantidade. Como diretor de cinema, também realizou poucos filmes. Sempre gostei imensamente do título de um deles: Juliana do Amor Perdido.

Em A Noite do Espantalho, trabalhou com os pernambucanos Alceu Valença e Geraldo Azevedo e filmou em Nova Jerusalém. A trilha do filme é primorosa.

Quando se fala do seu vínculo com o cinema, é necessário mencionar a parceria com Glauber Rocha na trilha de Deus e o Diabo na Terra do Sol.

"O Sertão vai virar mar/O mar vai virar Sertão". Ou: "Que a terra é do homem/Não é de Deus nem do diabo".

O filme de Glauber Rocha não seria o mesmo sem aqueles temas que parecem compostos por um nordestino, jamais por um paulista filho de libanês.

Podemos reouvir Sérgio Ricardo a partir do disco de 1973. A influência da música do Nordeste é predominante. Se voltarmos no tempo, temos Um SR. Talento, gravado no ano do golpe, ou A Bossa Muito Romântica de Sérgio Ricardo.

Seu último disco de estúdio é Ponto de Partida, título retirado de uma canção que interpretava naqueles shows dos anos 1970. “Tenho pra minha vida a busca como medida, o encontro como chegada e como ponto de partida”, diz a letra.

Em Bacurau, Kleber Mendonça Filho usou Bichos da Noite na cena do cortejo fúnebre de Dona Carmelita, a breve, mas marcante, personagem de Lia de Itamaracá.

"São muitas horas da noite/São horas do bacurau". No novíssimo cinema brasileiro, que Kleber Mendonça Filho faz com absoluta maestria, Bichos da Noite é um tributo a Sérgio Ricardo, a Glauber Rocha e ao Cinema Novo.

Foto/Divulgação

Silvio Osias

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