SILVIO OSIAS
Eastwood, perto dos 90, ainda faz um cinema muito vigoroso
Publicado em 21/02/2019 às 7:57 | Atualizado em 30/08/2021 às 23:36
Na minha infância, Clint Eastwood era o ator daqueles westerns horríveis de Sergio Leone, que só vi um pouco mais tarde.
O Eastwood diretor, sigo desde a estreia (em Perversa Paixão).
É um dos poucos que ainda me fazem sair de casa para ir a um desses cinemas de shopping.
A Mula, seu novo filme, está em cartaz nas salas brasileiras.
Não é um grande Eastwood, mas ele não sabe fazer filmes ruins, talvez dissesse Antônio Barreto Neto, meu guru na crítica de cinema.
O ator Clint Eastwood já tinha 41 anos quando fez sua estreia na direção. Poucos diriam que se transformaria num dos grandes cineastas do mundo. Mas foi isso mesmo o que ocorreu.
É discípulo de Leone e de Don Siegel, mestre do filme B americano. E superou os professores.
Seu cinema tem uma assinatura inconfundível. Uma contenção, um jeito sem excessos de construir as narrativas, de contar boas histórias.
Em quase cinco décadas, Eastwood dirigiu muitos filmes e, sob sua direção, também atuou inúmeras vezes como ator.
Fez westerns, policiais, dramas, filmes de guerra, cinebiografias e até um documentário sobre o piano no blues encomendado pelo colega Martin Scorsese.
Eastwood vai fazer 89 anos em maio. Tinha 87 quando realizou A Mula.
É um road movie diferente dos road movies que vimos anos atrás. Mas, como aqueles, também fala da América. A América vista por um velho cético e sem filtros.
Sem filtros? Nunca os teve! - diz Earl Stone, seu personagem, ao policial que não enxerga nele o homem que procura.
Sem filtros! - parece ser o que Eastwood quer dizer aos seus espectadores.
No mundo de fora, enquanto transporta sua carga de cocaína, Earl canta On the Road Again, um clássico do folk, da América profunda.
No mundo de dentro, na relação conflituosa com a filha, volta a um tema que já havia abordado no grande Menina de Ouro.
Quem segue Clint Eastwood desde Perversa Paixão, pôde vê-lo passar pelo tempo. Ou o tempo passar por ele. Por isso, há algo de melancólico em um filme como A Mula. Como ator, parece que é sua despedida. Como diretor, ainda não se sabe.
O cineasta está magro e curvo. Tem as marcas de um homem que se aproxima dos 90 anos.
Mas seu cinema permanece vigoroso.
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