SILVIO OSIAS
Egberto Gismonti faz 75 anos, um dos tesouros da música brasileira
Publicado em 06/12/2022 às 8:53 | Atualizado em 14/02/2023 às 14:06
O compositor e instrumentista Egberto Gismonti fez 75 anos nesta segunda-feira, cinco de dezembro. Dizer que ele é um dos maiores músicos do Brasil é insuficiente para dimensioná-lo corretamente. Ele é, na verdade, um dos maiores músicos do mundo. Não é possível se debruçar sobre o seu trabalho sem que seja sob essa perspectiva.
Egberto Gismonti nasceu na cidade do Carmo, no estado do Rio. Vem de uma família de músicos (o tio, o avô), o que explica o caminho que escolheu para sua vida. Para cada filho que nascia, seu avô materno compunha uma música. Quando a mãe de Egberto nasceu, ganhou de presente a valsa que tinha seu nome, Ruth.
Gismonti teve formação erudita e estudou piano. Mas não ficou no piano, dedicando-se também ao violão. É comum que os músicos dedicados a dois instrumentos não consigam domínio absoluto de nenhum deles. Com Egberto, não foi assim. Ele exibe grande virtuosismo tanto no piano quanto no violão.
Em Egberto Gismonti, as divisões se transformaram em somas. Não somente entre o piano e o violão. Formado para ser um compositor erudito, ele logo migrou para a música popular, terreno no qual de fato se projetou. Mas, a rigor, ficou numa zona de fronteira, produzindo música popular com elementos de música erudita.
Piano e violão. Erudito e popular. Grande como instrumentista, grande como autor. Acústico e elétrico, outra divisão que virou soma em Egberto. Nos anos 1970, ele plugou seu violão (de seis, sete, dez cordas ou mais) e adotou os teclados eletrônicos em discos incríveis como Academia de Danças e Corações Futuristas.
Com o percussionista pernambucano Naná Vasconcelos, fez o extraordinário Dança das Cabeças. Tudo desplugado, tudo muito improvisado. O violão e o piano de Egberto dialogando com os instrumentos de percussão de Naná. Um álbum que, em todo o mundo, impressionou sobremaneira os cultores da música instrumental.
Gosto de dizer que Egberto Gismonti ouviu o passado para, no presente, olhar para o futuro. O Villa-Lobos que Tom Jobim tanto reverenciou também é uma das suas referências. Ao mestre Villa, dedicou um disco - Trem Caipira - produzido com instrumentos eletrônicos, algumas ousadias e imensas belezas.
Egberto é do Brasil e é do mundo. No Brasil, gravou discos excepcionais pela Odeon. Para o mundo, assinou com o selo norueguês ECM, e foi gravar muitas vezes em Oslo. Nos álbuns da ECM, fez música com grandes nomes do jazz contemporâneo. Mas seria uma imprecisão classificá-lo como do jazz. Na verdade, limitaria seu trabalho.
Egberto Gismonti é uma das maiores riquezas da música brasileira. Tocando, cantando também. Seja em voo solo (ao piano, ao violão), seja com uma orquestra sinfônica ao seu lado ou com um trio como o Academia de Danças, com o qual dividiu palcos no Brasil e no mundo.
A música de Gismonti está em minhas audições há exatos 50 anos como experiência singularmente marcante. Experiência enriquecida enormemente pelo impacto de vê-lo muitas vezes ao vivo. E não vou deixar de mencionar: tê-lo como amigo foi um presente maravilhoso que a vida me deu. Mas isso já é uma outra história.
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