SILVIO OSIAS
Estive diante de Paul McCartney e não fiz nada. Apenas enchi os olhos de lágrimas
Publicado em 19/06/2021 às 14:12 | Atualizado em 30/08/2021 às 20:51
Uma amiga muito querida estranhou porque não escrevi nada, nesta sexta-feira (18), sobre os 79 anos de Paul McCartney (Foto/divulgação). Justifiquei que dei preferência aos 75 de Maria Bethânia e que junho é um mês de muitos aniversários. Neste sábado (19), Chico Buarque faz 77 anos. Nos próximos dias, teremos Hermeto Pascoal e Gilberto Gil entre os aniversariantes do mês. Já tivemos Erasmo Carlos e, postumamente, João Gilberto.
Mas resolvi reparar a omissão. E contar uma pequena história.
Paul McCartney ainda era muito jovem quando começou a se imaginar como um compositor de verdade. Talvez por influência do maestro George Martin, que lhe abrira os códigos da música erudita. Também por causa do pai, músico amador, que lhe despertara o gosto pelos grandes autores populares americanos.
Mesmo que pretendesse, Paul jamais seria um erudito, até porque não tinha formação para isto, mas um brilhante artesão da canção popular. Fazendo o artesanato do seu tempo e não o do tempo do seu pai. Um autor contemporâneo de canções pop, de melodias feitas sob medida para a sua voz de sereia sílfide (a definição é do maestro Bernstein).
Um dia, McCartney conversou via Internet com gente do mundo inteiro. Tentei fazer uma pergunta, mas não consegui. Ele seria um novo Cole Porter? Porter como um referencial apontado pelo pai do beatle. Um tipo de compositor que fez, em seu tempo, algo que guarda certa semelhança com o que Paul criou muitos anos depois.
Canção popular bem feita, bonita, de fácil assimilação, que casa perfeitamente letra e melodia. E que gruda para sempre nos nossos ouvidos. Pensemos em I’ve Got You Under My Skin na voz de Sinatra. Ou em Penny Lane no registro dos Beatles.
Fiquei com isto na cabeça. Paul McCartney é um Cole Porter moderno. Claro que não custa reconhecer que Porter era muito mais talentoso, menos vulgar. Mas, afinal, Paul é um rocker.
Em 2010, estive a dois metros dele na frente do Morumbi, em São Paulo. Encostado numa grade de segurança, ao lado de mais umas 40 pessoas, vi o músico sair do carro que o levava para o hotel, 24 horas antes do primeiro show que faria na cidade, e nos cumprimentar com um aceno.
Tive vontade de gritar: “Sir Paul, you are a modern Cole Porter!”. Mas faltou coragem. Ou iniciativa, tal foi o impacto de estar somente a dois passos do mais musical dos Beatles.
Perdi uma oportunidade única de pronunciar a frase diante dele. Seria ridículo? Qual seria a sua reação? Ficaria feliz com a comparação? Diria um “muito obrigado” em seu precário Português?
“Sir Paul, you are a modern Cole Porter!” – a frase ficou comigo, enquanto ele entrava no carro cercado por batedores e sumia em poucos segundos.
Deixei a comparação de lado e fiz o que todos ao meu lado fizeram: peguei o celular para dizer a alguém que estivera diante de Paul McCartney. E que não conseguira ao menos tirar uma foto. Ou gravar uma imagem em movimento. Nada.
Apenas enchi os olhos de lágrimas.
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