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SILVIO OSIAS

O dia em que os Rolling Stones desembarcaram em João Pessoa

Há 50 anos, público da sessão única de Gimme Shelter era mais underground do que mainstream.

Publicado em 16/01/2025 às 7:07


				
					O dia em que os Rolling Stones desembarcaram em João Pessoa
Foto/Reprodução.

Ver show de rock - documentário ou concert film - em casa é um negócio que foi se banalizando a partir da década de 1980. Primeiro, com o advento do VHS. Depois, com as bolachonas chamadas de laser-disc, o DVD, o Blu-ray e, por fim, o streaming.

Na década de 1970, não era assim. Na TV aberta, e só havia TV aberta, apenas a Globo nos acudia num programa que Nelson Motta apresentava nos sábados à tarde.

Lembro do dia em que paramos, diante da imagem chuviscada e em preto e branco, para ver o Pink Floyd Live at Pompeii como se aquilo fosse a maior coisa do mundo.

Ou do marco que representou conhecer o Monterey Pop, de D.A. Pennebaker, ainda que dublado, exibido num fim de noite na TV Tupi.

O grande programa era ver um documentário ou um concert film no cinema. Não eram muitos, mas foram inesquecíveis todos os que vimos ao longo da década de 1970.

Let It Be, Woodstock, Gimme Shelter, Joe Cocker: Mad Dogs and Englishmen, The Concert for Bangladesh, Elvis - That's The Way It Is, Elvis on Tour, Celebration at Big Sur, Fillmore, Wattstax, Janis, The Last Waltz, The Song Remains The Same.

Não seria muita coisa para os padrões de hoje, mas, considerando o que era lançado nos cinemas durante a década de 1970, esses 13 filmes foram experiências incríveis para quem pôde vê-los nas telas grandes dos cinemas de rua daquela época.

Woodstock, de Michael Wadleigh, é o melhor e mais importante de todos esses filmes. Tem muita música e tem História com H maísculo. É um documento de importância sociológica e expressivo retrato dos sonhos e equívocos da geração hippie.

Admirável, The Last Waltz, de Martin Scorsese, é sobre o ocaso de uma banda de rock, The Band, que se popularizou por acompanhar Bob Dylan em estúdios e palcos.

The Concert for Bangladesh, revi há pouco. Não é bom cinema, é ótima música. O beatle George Harrison e seus amigos no primeiro grande show de caráter beneficente.

Cada um desses filmes tem sua história e tem as estrelas do rock que ouvíamos nos discos e que pareciam chegar bem perto de nós através da magia do cinema.

Gimme Shelter é de 1970. Direção dos irmãos documentaristas Albert e David Maysles. Os Maysles já haviam filmado a primeira visita dos Beatles à América, em 1964. As imagens deles estão agora no documentário Beatles 64, produzido por Martin Scorsese.

Os irmãos Maysles filmaram, em 1969, a primeira grande turnê americana dos Rolling Stones pelos Estados Unidos. Registraram do triunfo ao fracasso.

O triunfo são as noites de 27 e 28 de novembro no Madison Square Garden, em Nova York. O concerto está no álbum Get Yer Ya-Ya's Out!, lançado em 1970.

Os números musicais (Jumpin' Jack Flash, Satisfaction) são incrivelmente bem filmados, se considerarmos o cânone do cinema documental da época, com câmeras de 16 milímetros operadas com total liberdade em cima do palco e no meio do público.

A sequência em que Mick Jagger "baila" em slow ao som do blues Love in Vain é um primor. A granulação da imagem ampliada para 35 milímetros não é defeito, mas virtude.

O fracasso é o free concert do autódromo de Altamont, na Califórnia, no dia seis de dezembro. Altamont entrou para a história como o antiwoodstock.

Os Rolling Stones pediram segurança aos Hell's Angels e, em troca, deram bebida. Um conhecido bando de arruaceiros, os anjos do inferno tocaram o terror em Altamont.

Houve até um assassinato na frente do palco dos Stones, e as câmeras dos irmãos Maysles registram com detalhes o instante em que o espectador é esfaqueado.

Gimme Shelter, o filme, mostra tudo isso. E mostra também os Rolling Stones - sobretudo Mick Jagger - fazendo uma espécie de mea culpa na sala de montagem.

Gimme Shelter foi lançado no Brasil em 1972. Demorou para chegar em João Pessoa em sessão única, na matinal do sábado 18 de janeiro de 1975, no Cine Plaza. Há 50 anos.

Woodstock no Cinema de Arte do Municipal. Gimme Shelter na matinal do Plaza. Eram verdadeiros acontecimentos na João Pessoa daquele tempo. Tinham um público muito específico. Eu diria que muito mais underground do que mainstream.

Gimme Shelter me encantou pelo brilho dos Rolling Stones nos shows do Madison Square Garden e me incomodou muito pela violência do free concert de Altamont.

Num texto que publiquei três dias depois no Correio da Paraíba, escrevi que o filme fazia apologia da violência. Estava totalmente equivocado, só mais tarde entendi.

Passados tantos anos, vejo Gimme Shelter como um dos melhores documentários sobre o rock e seus personagens. Com a assinatura de dois craques do cinema documental, não tem muitos números musicais e visita os subterrâneos do show business.

Gimme Shelter é de 1970. Shine a Light é de 2008. Quando filmou Shine a Light, Martin Scorsese contratou grandes fotógrafos do cinema e os colocou dentro do palco dos Rolling Stones. Buscava oferecer uma visão íntima da banda em ação.

David Maysles morreu em 1982. Mas seu irmão Albert, aos 80, foi um dos homens que Scorsese chamou para captar o show dos Rolling Stones que vemos em Shine a Light. É rico diálogo de Scorsese com os Maysles e o cinema documental dos anos 1960.

Foto/Reprodução

Silvio Osias

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