SILVIO OSIAS
Filme vai mostrar que o maestro tinha amor para dar a homens e mulheres
Publicado em 04/12/2023 às 8:19
Segunda-feira, quatro de dezembro de 2023. O ano está acabando, mas ainda falta a promissora estreia de Maestro (Foto/Divulgação). Bradley Cooper dirige e atua no papel do imenso Leonard Bernstein. No próximo dia 14, o filme terá estreia em salas brasileiras escolhidas (veremos em João Pessoa?) e, logo depois, antes que chegue o Natal, cai no streaming.
Maestro tem sua narrativa centrada no amor de Leonard Bernstein pela atriz chilena Felicia Montealegre. Felicia e Bernstein foram casados e tiveram dois meninos (Alexander e Jamie) e uma menina (Nina). Mas não foi uma relação fácil, porque o músico era homossexual.
Uma polêmica envolveu o lançamento mundial do filme. Bradley Cooper foi acusado de antissemitismo por causa da prótese que usou no nariz. Usou para ficar de fato muito parecido com o personagem, e, felizmente, foi defendido pelos filhos de Bernstein.
Leonard Bernstein foi um dos músicos mais importantes do século XX. Imenso em tudo o que fez. Grande compositor, grande pianista, grande regente de orquestra, grande persona pública.
Como homem do seu tempo (embora sofresse por acreditar que havia pouca contemporaneidade em sua música), Bernstein tem seu nome junto dos que produziram o melhor repertório erudito do século XX. Também figura ao lado dos regentes mais notáveis da era do disco (sobretudo nos anos em que esteve à frente da Filarmônica de Nova York).
Conduzindo uma orquestra, era performático, "louco", expressivo, passional. Usou a televisão para divulgar a música clássica numa extensa série de concertos dedicados sobretudo ao público jovem. Tinha ainda uma admiração singular pelo jazz e o difundiu através de programas didáticos que fizeram história. Bernstein era um astro pop. Ousado, provocativo, controvertido.
Casou com atriz chilena Felicia Montealegre, com quem teve três filhos, mas era gay. Também era de esquerda. "Me respeitem! Sou um veado vermelho!", teria dito certa vez aos seus críticos (se é lenda, imprima-se a lenda!). Judeu, vivendo em Nova York, vizinho de John Lennon no Edifício Dakota, o maestro não gostava somente do jazz quando o assunto era música popular. Amava o rock de Elvis, dos Beatles e dos Rolling Stones. E cutucava os colegas do mundo erudito ao dizer que, se pensarmos na relação do homem com a música, os Beatles foram mais importantes do que os clássicos contemporâneos do século XX.
Quando, sob Zubin Mehta, a Orquestra Filarmônica de Israel tocou Richard Wagner pela primeira vez, o público reagiu mal por causa da preferência de Hitler pelo compositor. Bernstein, mesmo sendo judeu, defendeu a escolha, afirmando que Wagner não poderia estar ausente do repertório de nenhuma orquestra moderna. Já no concerto em comemoração pela queda do muro de Berlim, regeu a Nona Sinfonia de Beethoven e, no trecho cantado, trocou a palavra alegria por liberdade.
Seu amor pela música popular foi recompensado. São dele as melodias de um dos musicais mais populares do século XX: West Side Story, que transpõe a tragédia de Romeu e Julieta para a Nova York dos anos 1950, colocando o casal apaixonado (Tony e Maria) no meio de duas gangues de rua. O tema da luta dos imigrantes pela conquista do sonho americano permanece atual. Em 1961, West Side Story virou filme, dirigido por Robert Wise, que no Brasil se chama Amor, Sublime Amor. Em 2021, foi refilmado por Steven Spielberg.
West Side Story parece música popular, se transformou em música popular, mas não é. Suas "canções" e seus temas instrumentais foram escritos com o rigor da música erudita. Leonard Bernstein, já no fim da vida, gravou pela primeira (e única) vez este grande musical. E o fez com uma orquestra montada com músicos que arregimentou em Nova York e maravilhosos cantores líricos, de Kanawa a Carreras, de Troyanos a Ollmann.
Leonard Bernstein morreu em outubro de 1990, aos 72 anos. Tinha câncer de pulmão. A música de Lenny está viva!
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