SILVIO OSIAS
Grande brasileiro, Darcy Ribeiro viu as dores do Brasil no choro de Glauber Rocha
Publicado em 27/10/2022 às 8:43
Nesta quarta-feira, 26 de outubro de 2022, fez 100 anos do nascimento do antropólogo Darcy Ribeiro. Esse grande brasileiro nasceu em Montes Claros, Minas Gerais, e morreu em Brasília em 1997, aos 74 anos, enquanto exercia seu único mandato de senador. Dois anos antes, lutando contra o câncer que o matou, lançou aquele que, provavelmente, é seu livro mais importante: O povo brasileiro - a formação e o sentido do Brasil.
Darcy Ribeiro amava os indígenas, a floresta e a educação. Foi o primeiro reitor da UNB e ministro da Educação de João Goulart na fase parlamentarista. Na fase presidencialista do governo de Jango, foi ministro da Casa Civil até o golpe militar que derrubou o presidente em 31 de março de 1964. Cassado, amargou o exílio durante alguns anos. Na volta, na luta política no Rio de Janeiro, juntou-se a Leonel Brizola, que também voltara do exílio.
Brizola conquistou o governo do Rio de Janeiro nas eleições de 1982, tendo Darcy Ribeiro como vice-governador. Foi de Darcy o projeto dos Centros Integrados de Educação Pública, construídos inicialmente no Rio. Infelizmente, os Cieps foram sabotados. Levados a sério e expandidos por todo o país, os Cieps teriam formado uma geração de brasileiros muito mais qualificada do que essa que temos aí.
No centenário do nascimento de Darcy Ribeiro, é triste ver que o Brasil é governado por quem não ama nem os indígenas, nem a floresta, nem a educação. Nas redes sociais, a gente vê com frequência um vídeo muito forte. É o discurso de Darcy Ribeiro diante do caixão do cineasta Glauber Rocha. Uma cena que vi na época, em 1981, no instante do enterro de Glauber.
Foi muito impactante na época. Permanece agora porque o futuro com que Darcy Ribeiro sonhava, e menciona em sua fala, não foi construído. Esse vídeo é de uma incômoda atualidade nesse Brasil sob Bolsonaro. A desesperança e o desespero traduzidos no choro de Glauber, as crianças que permanecem com fome num dos países mais desiguais do mundo, a mediocridade, a estupidez, até a tortura que o presidente defende e exalta.
Vamos precisar mesmo de outra geração, talvez mais outra, e algumas décadas à frente para que o que Darcy Ribeiro diz ao Glauber Rocha morto seja realidade nesse país que, como cantaria Tom Jobim, não pode deixar de ser uma promessa de vida em nossos corações.
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