SILVIO OSIAS
Grávida de Chicão, Cássia Eller me conquistou cantando Lábios de Mel
Publicado em 12/12/2022 às 8:46
A primeira lembrança que tenho de Cássia Eller é da sua versão de Eleanor Rigby, dos Beatles. Está em seu primeiro álbum, de 1990. Soou estranha. "É a música desconstruída", me disse alguém na época, em tom de elogio. Não me agradou. Em 1993, Cássia já tinha dois álbuns lançados quando participou do Prêmio Sharp - naquela edição, uma homenagem a Ângela Maria e Cauby Peixoto. Lá estava ela, grávida de Chicão, cantando Lábios de Mel, grande sucesso do repertório de Ângela (vídeo no final da coluna).
Fui seduzido por sua performance. A mesma Cássia que me desagradara em Eleanor Rigby, me conquistava relendo um clássico da música popular brasileira. Foi quando comecei a entender que ela faria bem o que quisesse. E esse "fazer bem o que quisesse" foi o que vimos na sua carreira. A primeira grande confirmação está no álbum de 1994, um dos melhores que gravou. Ali, ela tanto vai a Ataulfo Alves quanto carrega Cazuza dos anos 1980 para os 1990. Tim Maia, Raul Seixas, Djavan, Nando Reis e Otis Redding também cabem no repertório.
Assim seria Cássia Eller. Uma grande voz (Sim! Uma grande voz!) a serviço naturalmente de um repertório muito diverso. Um ecletismo espontâneo, sem ser chato, sem parecer fabricado. Tem um álbum inteiro dedicado a Cazuza, tem discos ao vivo (elétricos ou acústicos), tem Hendrix, Chico, Caetano, Gil, Mutantes, até Piaf. E tem o triunfo final com a turnê, o CD e o DVD da série Unplugged, da MTV. Em dezembro de 2001, terminada a excursão, o coração de Cássia parou subitamente. Estava com 39 anos. Pouco mais de uma década de carreira.
Se estivesse viva, Cássia Eller teria completado 60 anos neste sábado, 10 de dezembro. A Universal Music marcou a data com o lançamento do álbum inédito In Blues. Junta a voz da cantora aos sons da guitarra de Victor Biglione. Foi gravado no início da carreira dela, e a gravadora não lançou na época para não associá-la a um gênero. É disco bem produzido, bem arranjado, com ótima banda e total protagonismo de Eller e Biglione. O repertório de standards mostra que Cássia Eller também era uma vigorosíssima cantora de blues.
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