SILVIO OSIAS
"Imagine uma bota pisoteando um rosto humano - para sempre"
Publicado em 30/12/2019 às 7:50 | Atualizado em 30/08/2021 às 20:39
"ESTÁ COMEÇANDO A VER QUE TIPO DE MUNDO ESTAMOS CRIANDO? NÃO HAVERÁ ARTE, NEM LITERATURA, NEM CIÊNCIA. QUANDO FORMOS ONIPOTENTES, JÁ NÃO PRECISAREMOS DA CIÊNCIA. NÃO HAVERÁ DISTINÇÃO ENTRE BELEZA E FEIURA. NÃO HAVERÁ CURIOSIDADE, NEM DELEITE COM O PROCESSO DA VIDA. TODOS OS PRAZERES SERÃO ELIMINADOS. MAS SEMPRE - NÃO SE ESQUEÇA DISTO, WINSTON -, SEMPRE HAVERÁ A EMBRIAGUEZ DO PODER. SEMPRE, A CADA MOMENTO, HAVERÁ A EXCITAÇÃO DA VITÓRIA, A SENSAÇÃO DE PISOTEAR O INIMIGO INDEFESO. SE VOCÊ QUER FORMAR UMA IMAGEM DO FUTURO, IMAGINE UMA BOTA PISOTEANDO UM ROSTO HUMANO - PARA SEMPRE." | ||
Não precisa ir longe na leitura. Esse pequeno texto aqui transcrito está na contracapa da nova edição brasileira de 1984, de George Orwell (Companhia Das Letras/R$ 120,00). | ||
Eu era muito jovem quando li 1984. Li junto com Admirável Mundo Novo, de Aldoux Huxley. O ano de 1984 ainda não havia chegado. | ||
Pensávamos em outros anos do futuro, um pouco mais distantes. 2000, 2001. 2020 - que o cinema mostrara num filme chamado No Mundo de 2020. | ||
O futuro da humanidade será sombrio? Convivi com homens cultos que asseguravam que não. | ||
Passamos logo por 1984, por 2000, 2001, estamos chegando a 2020. | ||
Quando a ficção errou? Quando a ficção acertou? | ||
No que alcançamos a ficção? No que a ultrapassamos? Onde ficamos para trás? | ||
A nova edição de 1984 remete a essas questões e a muitas outras. Sobretudo, à incrível atualidade do livro que Orwell escreveu em 1948. | ||
O bom é que esse volume que chegou às livrarias neste final de ano traz vasta fortuna crítica a enriquecer a leitura (ou releitura) deste que é um dos grandes livros do século XX. Além de ser um belo objeto. | ||
"Os livros são objetos transcendentes, mas podemos amá-los do amor táctil" - diz Caetano Veloso em uma das suas canções. | ||
O 1984 da Companhia Das Letras merece esses dois amores. |
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