SILVIO OSIAS
Jair Bolsonaro, Tenório Jr. e a violência das ditaduras
Autoridades argentinas confirmam que ossada é de músico brasileiro assassinado há 49 anos.
Publicado em 15/09/2025 às 11:07

Em 2008, Walter Lima Jr. realizou um filme chamado Os Desafinados. É sobre um grupo de músicos brasileiros de bossa nova tentando o reconhecimento em Nova York.
No elenco, tem Rodrigo Santoro, Selton Mello, Cláudia Abreu e Alessandra Negrini. No grupo de músicos, Rodrigo Santoro faz Joaquim, o pianista.
Há um momento da narrativa em que Joaquim está tocando na Argentina. Ele desce do hotel para comprar cigarro, desaparece e não volta nunca mais.
Os Desafinados é um filme de ficção. Joaquim é um personagem de ficção. Mas o destino dele é igual ao que o músico brasileiro Tenório Jr. teve em 1976.
Tenório Jr. era um pianista respeitado em seu tempo. Em 1976, aos 35 anos, Tenório estava em Buenos Aires tocando na banda de Toquinho e Vinícius de Moraes.
À noite, após o show, ele desceu do seu quarto de hotel para fazer um lanche, comprar cigarros e passar numa farmácia. Foi levado por agentes da repressão e não voltou mais.
Tenório Jr. pode ter sido confundido com algum militante. O fato é que, depois de ser submetido a torturas, foi assassinado com cinco tiros de revólver. Era março de 1976, e estava prestes a começar uma das mais violentas das ditaduras da América Latina.
Neste sábado, 13 de setembro de 2025, quase 50 anos depois, soubemos, finalmente, que as autoridades argentinas confirmaram, através de exames, que é de Tenório Jr. uma ossada encontrada num cemitário em Buenos Aires.
*****
O ex-presidente Jair Bolsonaro está no título dessa postagem. Onde ele entra nessa história trágica do assassinato do músico brasileiro? Os leitores e as leitoras da coluna haverão de me perguntar. Pois bem, entra na lembrança do tema ditadura.
Entra na coincidência de que a notícia da identificação da ossada de Tenório Jr. e o desfecho desse triste episódio nos chegam dois dias depois que o Supremo Tribunal Federal condenou Jair Bolsonaro à prisão por tentativa de golpe de estado.
Jair Bolsonaro é um nome necessariamente associado à ideia das ditaduras militares, dos regimes de exceção. Ainda que ele tenha se projetado após o fim da ditadura brasileira e tenha sido eleito deputado federal e presidente da República numa democracia.
Jair Bolsonaro muitas vezes defendeu a tortura. Lamentou que a ditadura militar inciada em 1964 não tenha matado mais gente. Sugeriu a execução do então presidente Fernando Henrique Cardoso e de mais 30 mil brasileiros, e nada lhe aconteceu.
Jair Bolsonaro homenageou o torturador Brilhante Ustra dentro do plenário da Câmara dos Deputados. O ex-presidente, a gente naturalmente vincula à ideia da ditadura e suas violências. A mesma violência que matou Tenório Jr. na Buenos Aires de 1976.
Comentários