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SILVIO OSIAS

Lula foi fraco ao limitar intervenção à Segurança Pública. Alexandre foi forte ao afastar governador do DF

Publicado em 09/01/2023 às 7:38


                                        
                                            Lula foi fraco ao limitar intervenção à Segurança Pública. Alexandre foi forte ao afastar governador do DF

Neste domingo (08), por coincidência, vi Argentina, 1985, admirável filme de Santiago Mitre sobre o julgamento dos militares que comandaram a última ditadura no país vizinho. Vi duas horas antes dos ataques terroristas em Brasília (Foto/Reprodução) e, necessariamente, pensei no quanto foi diferente a relação entre poder civil e poder militar ao término da ditadura brasileira. Relação que tanto se complicou com a tardia criação da Comissão da Verdade, no governo de Dilma Rousseff, quanto com a eleição de Jair Bolsonaro, que militarizou o governo. O resultado é o que temos agora, nesse início de 2023: um presidente fraco na condição de comandante supremo das Forças Armadas, e um ministro da Defesa que, até há pouco, enxergava democracia nos que, criminosamente, se reúnem diante de quartéis pedindo que a Constituição seja rasgada.

Jair Messias Bolsonaro não é mais o presidente da República. O presidente da República é Luiz Inácio Lula da Silva. O que aconteceu neste domingo em Brasília é de responsabilidade também do novo governo. Lula não tem o direito de se surpreender com os atos terroristas. O ministro Flávio Dino não tem o direito de se surpreender com o que vimos ontem na Praça dos Três Poderes. Era óbvio que ia ocorrer. Foi fartamente anunciado nas redes sociais e pela mídia. Milhares de pessoas se deslocaram para o Distrito Federal, e lá chegaram de ônibus. A Segurança Pública do DF estava sob o comando de Anderson Torres, o delegado da PF que foi ministro da Justiça de Bolsonaro. Torres estava na Flórida, o estado americano para onde foi o ex-presidente brasileiro. O governador Ibaneis Rocha, aliado de Bolsonaro, disse não a todos os conselhos para que não nomeasse Anderson Torres.

Ibaneis Rocha foi conivente? Por enquanto, seria uma temeridade dizer que sim. Ibaneis Rocha foi enganado? Se foi, por quem? Seu pedido de desculpas, num vídeo divulgado ontem à noite, é constrangedor, provoca vergonha alheia. E Flávio Dino? Foi ingênuo? Também foi enganado? Subestimou a força do bolsonarismo? Flávio Dino tem 54 anos, já foi magistrado, governou o Maranhão por dois mandatos, é um homem experiente. Não pode ficar chorando o leite derramado. Na entrevista coletiva que deu no final da noite do domingo, o ministro da Justiça era um homem em busca de explicações, de justificativas. Jamais um homem que agiu com a força que tem - ou deve ter - para evitar esse episódio que envergonha o Brasil e ameaça a democracia brasileira.

As forças democráticas foram coniventes com Jair Bolsonaro. Podemos estabelecer como marco zero a defesa que o  então deputado federal pelo Rio de Janeiro fez do torturador Brilhante Ustra, na sessão de admissibilidade do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff, sem que nada lhe tenha acontecido. Muito antes, aliás, o deputado já havia defendido o fuzilamento do presidente Fernando Henrique Cardoso, e nada lhe aconteceu. Bolsonaro chegou a ser presidente da República porque as forças democráticas permitiram. Bolsonaro se manteve presidente da República porque as forças democráticas permitiram. Bolsonaro fez o que fez por que nós - eu e você - não fomos para as ruas, como milhares foram para exigir a deposição da presidente Dilma.

As forças democráticas têm, sim, uma imensa responsabilidade sobre os atos terroristas deste domingo em Brasília. Aqui, digo as forças democráticas, mas o que quero dizer mesmo é a esquerda. Lembram da expressão esquerda festiva? Pois é. O governo Lula está cheio de gente que age como se estivesse na velha esquerda festiva e continua subestimando a dimensão do bolsonarismo. A ultradireita não está brincando. Demonstrou cabalmente que não está brincando ao invadir e vandalizar o Palácio do Planalto, o Supremo Tribunal Federal e o Congresso Nacional. A democracia venceu, dizia o governo no final da noite desse domingo trágico. Isso não se repetirá, dizia Flávio Dino, garantindo o que não pode ser garantido.

Sim. Admitamos que a democracia venceu. Torçamos para que seja verdade. Mas tudo depende do tamanho da reação das forças democráticas. O presidente Lula, por exemplo, se mostrou fraco ao decretar intervenção federal na Segurança Pública do DF. Deveria ter decretado intervenção federal no DF, com o afastamento do governador Ibaneis Rocha e a nomeação de um interventor. O ministro Alexandre de Moraes se mostrou forte ao decidir afastar o governador. O terrorismo em Brasília deve ser compreendido como um muito eloquente exemplo do que querem os bolsonaristas. É preciso jogar duro com eles, com tolerância zero. É preciso que se empreenda uma verdadeira cruzada para extirpá-los da vida política nacional. É urgente e imprescindível entender que eles não estão agindo sozinhos e que a ação deles põe em risco não apenas o mandato de Lula, mas a sobrevivência da vida democrática.

Imagem ilustrativa da imagem Lula foi fraco ao limitar intervenção à Segurança Pública. Alexandre foi forte ao afastar governador do DF

Silvio Osias

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