SILVIO OSIAS
Morte do maior símbolo das Mães da Praça de Maio faz lembrar cena comovente de ativismo político
Publicado em 21/11/2022 às 7:37 | Atualizado em 21/11/2022 às 21:51
Hebe de Bonafini (Foto/Reprodução) morreu neste sábado (19) aos 93 anos. Fundadora e líder do grupo que ficou mundialmente conhecido como Mães da Praça de Maio, ela foi muito mais do que uma grande voz que lutou contra a ditadura militar argentina (1976/1983) e em defesa dos desaparecidos. Hebe se transformou numa ativista que ultrapassou as fronteiras do seu país para conquistar projeção internacional como símbolo extraordinário de engajamento entre os defensores dos direitos humanos.
Hebe de Bonafini perdeu dois filhos para a ditadura argentina. Dois jovens que desapareceram sem que o regime de exceção jamais desse qualquer explicação sobre o destino deles. No final da década de 1970, Hebe e outras mães de desaparecidos passaram a se reunir e fazer passeatas em frente à Casa Rosada, em Buenos Aires. Foi assim que nasceu o grupo Mães da Praça de Maio. Hebe foi muito criticada por ter posições radicais, mas o seu ativismo se sobrepõe aos excessos que possa ter cometido.
No final dos anos 1980, o encontro das Mães da Praça de Maio com a música do astro pop Sting gerou uma cena comovente de ativismo político. Num show da Anistia Internacional, Hebe e suas companheiras estavam no palco no momento em que Sting e o ex-Genesis Peter Gabriel cantavam They Dance Alone. Na última parte do número, quando a banda de acento jazzístico de Sting transformou a canção de andamento lento num samba, os dois astros dançaram com cada uma das mulheres, que, ao final, exibiram banners simbolizando os desaparecidos.
A morte de Hebe de Bonafini nos remete à sua grande luta. Partindo de um drama pessoal, ela alcançou a dimensão coletiva. A lembrança da dança de Sting e Peter Gabriel com as Mães da Praça de Maio fica, aqui na coluna, como tributo a Hebe de Bonafini.
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