SILVIO OSIAS
Na GloboNews, Lula não disfarça preocupação com os militares
Publicado em 19/01/2023 às 9:23
Nesta quarta-feira (18), a GloboNews exibiu a primeira entrevista exclusiva do presidente Luiz Inácio Lula da Silva a uma emissora de televisão desde que ele foi eleito, em 30 de outubro do ano passado. A jornalista Natuza Nery conduziu a entrevista gravada no gabinete presidencial, no Palácio do Planalto. Com duração de 50 minutos, a conversa foi exibida integralmente na edição das 18 horas e reprisada ainda ontem à noite.
Não deveria ser necessário ser petista nem lulista - e isso está tão nítido na entrevista - para enxergar a dimensão da mudança verificada com a saída de Jair Bolsonaro e a chegada de Lula à Presidência da República. Infelizmente, porém, num país dividido como está o Brasil, milhões de pessoas, com maior ou menor intensidade, andam saudosas de Bolsonaro e, tristemente, assim permanecerão por muito tempo.
Não sou petista nem lulista e costumo enxergar os defeitos de Lula, mas é auspicioso verificar que, hoje, o Brasil tem um presidente como ele. Acabamos de sair de um período de trevas, no qual o país foi governado por um homem perverso, incapaz e irresponsável, e agora temos um governante experiente, com rara inteligência política, bem avaliado pelo mundo civilizado e conectado com as questões cruciais da contemporaneidade.
É um alento assistir a uma entrevista como a que Natuza Nery fez com Lula. O melhor de Lula está ali naquela conversa. E, numa perspectiva que não é a principal, mas que deve ser mencionada, há também uma fotografia de como pode se dar a relação de quem governa com quem faz jornalismo profissional. No lugar do "acabou a entrevista" de Bolsonaro, está um presidente disposto a convergir e divergir.
O Lula que vimos na primeira parte da entrevista é o Lula que não disfarça sua preocupação com os militares. O presidente foi de uma franqueza que traduz a sua preocupação e também deve nos deixar preocupados. Desde a redemocratização, nenhum governo - Fernando Collor, Fernando Henrique Cardoso, Lula e Dilma Rousseff - começou com esse "estranhamento" entre o presidente e as Forças Armadas.
Em alguns momentos da conversa, Lula foi duro com os militares, mas é forçoso reconhecer que ele está pisando em ovos. A necessidade de uma conversa como a que o presidente deverá ter com os comandantes militares, nesta sexta-feira (20), não esteve em pauta nos governos anteriores e aponta, tanto para os efeitos danosos da militarização do governo por Bolsonaro, quanto para o desprezo que parte da tropa parece ter por Lula.
Lula lembrou que já foi presidente por oito anos, que teve uma boa relação com os militares e que o que deseja é uma relação digna com as Forças Armadas. Lula está certíssimo, e o que se espera é que os comandantes das três Forças ajam com reciprocidade. Não há de ser positiva a admissão, por Lula, de que os serviços de inteligência, incluindo os das Forças Armadas, falharam no oito de janeiro e de que estivemos diante da tentativa de um golpe. E isso, o presidente diz, com todas as letras e enfaticamente, na entrevista a Natuza Nery.
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