SILVIO OSIAS
Nana Caymmi foi uma das grandes vozes do Brasil
A cantora morreu dois dias depois de fazer 84 anos.
Publicado em 02/05/2025 às 7:04

Nana Caymmi morreu no Rio de Janeiro nesta quinta-feira (01/05). Na terça-feira (29/04), ela completou 84 anos. Estava hospitalizada desde agosto do ano passado.
Nana Caymmi tinha obesidade mórbida e foi hospitalizada com um quadro severo de arritmia cardíaca. Teve muitas complicações, e a causa da morte foi um choque séptico.
Quando soube da morte de Nana Caymmi, a cantora Mônica Salmaso postou em suas redes sociais: "Longe, longe, ouço essa voz que o tempo não vai levar". É um trecho de Sentinela, dueto soberbo de Nana com Milton Nascimento.
Nana Caymmi foi uma das grandes cantoras brasileiras. Na geração que despontou na década de 1960, está ao lado de Elis Regina, Gal Costa e Maria Bethânia.
Não obteve, no entanto, a mesma visibilidade que Elis, Gal e Bethânia obtiveram. De certo modo, mesmo com o sobrenome que tinha, ficou à margem do sucesso popular.
O pai - Dorival Caymmi - era um gigante. A mãe - Stella Maris - deixou de cantar para cuidar da família. Os irmãos - Dori e Danilo - também são músicos. Filha de Danilo, a sobrinha - Alice - é cantora e tem um timbre que lembra muito o da tia.
A Família Caymmi é um patrimônio da arte popular brasileira. O patriarca, Dorival Caymmi, a partir das canções praieiras, é um dos pilares do nosso cancioneiro.
Nana foi uma grande intérprete do pai, debruçando-se - só ou com os irmãos - várias vezes sobre o repertório extraordinário legado por Dorival Caymmi.
Seu disco de estreia, lançado em 1965 pelo selo Elenco, traz Acalanto, a comovente canção de ninar que Dorival compôs para Nana quando ela era um bebê.
Em 1966, venceu a etapa nacional do Festival Internacional da Canção interpretando Saveiros, melodia de Dori - seu irmão - sobre letra de Nelson Motta.
Em 1967, Nana Caymmi e Gilberto Gil compuseram Bom Dia. Nana e Gil tiveram um breve casamento na época do festival que projetou nacionalmente o compositor.
Nana Caymmi gravou muito, mas nem sempre teve o espaço merecido no mercado fonográfico. Fez discos impecáveis durante as décadas de 1970 e 1980.
Nana Caymmi foi intérprete excepcional do cancioneiro de Antônio Carlos Jobim e também dos compositores mais importantes da sua geração.
Voz e Suor é o título de um dos melhores discos de Nana Caymmi. Foi lançado em 1983 e não precisa de mais nada além da sua voz e do piano de César Camargo Mariano.
Lançada em 1998, Resposta ao Tempo fez sucesso quando entrou na trilha da minissérie Hilda Furacão. A melodia é de Cristovam Bastos, e a letra, de Aldir Blanc.
Também é de 1998 a sua gravação de Não se Esqueça de Mim. Beira a perfeição a emocionada releitura que Nana Caymmi fez dessa canção de Roberto e Erasmo Carlos.
De 2020, o último álbum de Nana Caymmi é todo dedicado ao repertório de Tom Jobim e Vinícius de Moraes. É um breve songbook deles arranjado por Dori Caymmi.
Não faz tanto tempo, Nana fez comentários horríveis sobre a relação de Chico Buarque, Gilberto Gil e Caetano Veloso com Lula. Foi cancelada por muita gente da esquerda.
Mirando a beleza da sua voz e a qualidade do que gravou, penso que a incontinência verbal de Nana Caymmi não deve jamais se sobrepor à imensa cantora que ela foi.
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