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SILVIO OSIAS

"Não existe regra sobre como uma feminista deve se comportar. Ser feminista é ser livre"

Publicado em 04/06/2021 às 7:04 | Atualizado em 30/08/2021 às 20:51


				
					"Não existe regra sobre como uma feminista deve se comportar. Ser feminista é ser livre"

Nesta sexta-feira 04), a mestra em Linguística Luísa Gadelha, que escreve sobre literatura e é editora do site Zona da palavra, responde a uma pergunta que fiz a ela.

COMO DEVE SE COMPORTAR UMA FEMINISTA?

Luísa Gadelha

Esta provocação surgiu de Sílvio Osias, que me perguntou bastante sucintamente: como uma feminista deve se comportar?

Em primeiro lugar, quero dizer que eu já me via como feminista antes mesmo de descobrir o termo, pois, como Marie Shear afirma, o feminismo é a ideia radical de que mulheres são pessoas! Ou seja: merecemos os mesmos direitos que os homens possuem. Isso pode soar simples ou superficial, mas implica em uma gama de mudanças sociais, culturais e até mesmo estruturais para que a nossa sonhada igualdade de gênero seja alcançada. Vai do combate à violência doméstica e ao feminicídio a atitudes do cotidiano como assédio e comentários – e interrupções – que diminuem nossas capacidades intelectuais e racionais. E está tudo tão intricado que a gente nem se dá conta do machismo que reproduz. É uma desconstrução diária.

Mas, voltando à questão provocativa do título desse texto, eu queria deixar bem claro que NÃO existe regra sobre como uma feminista deve se comportar. O feminismo não dita comportamentos, e deixa as mulheres livres para serem o que quiserem. Pode trabalhar fora, pode ser dona de casa, pode ser as duas coisas ao mesmo tempo, pode ser mãe, pode não ter filhos, viver relacionamentos hetero, homo ou poliafetivos, ou mesmo nenhum relacionamento romântico, se isso a faz feliz. Pode se render aos milhares de artifícios que marcam esteticamente o gênero feminino ou pode não se submeter a nenhum deles, e não será menos mulher por causa disso. Tudo lhe é permitido, desde que seja uma escolha própria. Tudo, desde que tenhamos total autonomia sobre nossos corpos e atitudes – e incluo, aqui, autonomia sobre nossa sexualidade e nossa capacidade reprodutiva. Sem censuras, críticas ou julgamentos. Ser feminista é ser livre.

De uma coisa, contudo, não abro mão: é o conceito da sororidade. Esse princípio, que me é um dos mais caros dentro do feminismo e um dos temas que pesquiso no doutorado, evoca o companheirismo, a solidariedade entre as mulheres – a raiz da palavra, soror, em latim, significa “irmã”. Disse há pouco que não há regras para as feministas, mas acredito que a sororidade poderia nos servir como um norte: praticar sempre o respeito por outra mulher, pôr-se em seu lugar, tendo em vista que somos criadas para nos vermos umas às outras como concorrentes, como rivais, como invejosas, frívolas. 

Então, sempre que me vejo no afã de criticar, censurar ou condenar alguma mulher, lembro das palavras de uma de minhas escritoras preferidas da atualidade, Elena Ferrante: “A princípio, me recuso a falar mal de outra mulher, mesmo que ela tenha me ofendido de maneira intolerável. É uma posição que me sinto inclinada a seguir precisamente porque estou bem ciente da situação das mulheres: é a minha, eu a observo nas outras, e sei que não há mulher que não faça um esforço enorme, exasperante, para chegar ao fim do dia. (...) Somos todas profundamente marcadas por um modo de ser no mundo que, mesmo que clamemos como nosso, está envenenado desde a raiz pela dominação masculina”.

Ferrante, aliás, não se declara feminista, porém sua obra literária é claramente um manifesto de crítica social – em especial ao patriarcado -, pois atenta para uma série de reflexões e considerações sobre o espaço que a mulher ocupa na sociedade, que papéis desempenha, como lida com a maternidade, como galgamos caminhos mais pedregosos para alcançar patamares que para os homens já estão facilmente postos. 

Existem várias formas de ativismo, que vão da pesquisa acadêmica aos movimentos sociais, passando por atitudes sutis e discretas do cotidiano, como exercitar a sororidade. Literatura: eis aqui mais um tipo de ativismo – não no sentido pejorativo e panfletário do termo, que diminui uma obra de arte, mas no sentido de instigar a reflexão e promover uma verdadeira transformação social; e, estendendo a célebre frase de bell hooks, “o feminismo é para todo mundo”, digo que o feminismo é para todas as searas da vida.

*****

Luísa Gadelha é graduada em Letras, mestra em Linguística pela Universidade Federal da Paraíba e doutoranda em Estudos Literários e Feministas pela Universidade do Porto. Servidora da UFPB, também escreve sobre literatura e é editora do site de poesia Zona da palavra. Tem poemas publicados em revistas brasileiras e portuguesas. 

Imagem ilustrativa da imagem "Não existe regra sobre como uma feminista deve se comportar. Ser feminista é ser livre"

Silvio Osias

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