SILVIO OSIAS
Nelson Barros é um psicoterapeuta que escreve crônicas muito bem
Publicado em 22/08/2022 às 8:03
O nome dele é Nelson Barros, pernambucano que veio desde cedo para a Paraíba e aqui ficou. Para mim, é Nelsinho, um rapaz que vi cantando em festivais nos anos 1980. Tinha a voz bonita. Também era uma presença bonita no palco. Eu atuava como jurado, e ele foi premiado mais de uma vez naquelas disputas.
Passei mais de três décadas sem vê-lo. Sem ter qualquer notícia dele. O reencontro, há uns três anos, foi numa loja de discos, para onde nossas afinidades nos levam. Soube ali que trocara a medicina pela psicologia. E que continuava fortemente apaixonado por música, como já era muito antes do tempo em que cantou em festivais.
O Nelsinho que reencontrei antes da pandemia estava se dedicando a uma outra coisa, além da psicologia e das cantorias informais: a crônica, esse gênero extraordinário que aproximou tantos jornalistas do texto literário, como temos, ficando com um exemplo tão próximo de nós, um Gonzaga Rodrigues.
Nelson Barros tem uma coluna em A União. Mas ele sabe que jornal vai para o lixo. Raras pessoas fazem um recorte, guardam alguma coisa. Pensando nisso, resolveu fazer livros e dar um formato menos perecível aos textos que publica no jornal e nas redes sociais. Bancou, ele próprio, a edição dos seus livros.
Começou com Coisas que escrevi para ela, editado por A União e agora reeditado pela Ideia. Junto com a nova edição do livro de estreia, Nelson está lançando Trilha Sonora, também pela Ideia. Entre os dois, publicou Tarot Poético, que reúne poesia em formato de cartas - um atraente livro-objeto.
Coisas que escrevi para ela tem um conceito. É um livro para as mulheres, cujos nomes aparecem logo no início. Deixemos no singular, como no título: ELA, a mulher, essa figura mágica sem a qual nada somos. Nelson mistura prosa e poesia em textos que buscam, talvez, decifrar o indecifrável. Fiquemos com essa síntese: Mulher é phodda. Seja uma amiga, seja a mãe do autor, diante do duro diagnóstico de câncer, mulher é phodda.
Trilha Sonora também tem um conceito. As crônicas, aqui, são guiadas pelo imenso amor de Nelson Barros pela música, daí o título. Ao final de cada texto, há uma lista de músicas que ele sugere - retrato do seu gosto diversificadíssimo e completamente despido de preconceitos. Nesse tempo em que os álbuns (do meu tempo e do de Nelson) foram substituídos pelas playlists, o leitor bem que pode fazer a sua. Ficará incrível.
Nelson Barros está com 60 anos, mas, como cronista, é uma revelação. Fez o caminho inverso: veio das redes sociais para o jornal impresso. Seus textos têm qualidade, são muito bem escritos. Oferecem um retrato do autor e suas experiências. Dialogam com o leitor de modo fluente. Misturam prosa com poesia. São crônicas de jornal com traços literários. Nelsinho tomou gosto, a julgar pela velocidade com que nos presenteou com esses livros.
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