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SILVIO OSIAS

O Agente Secreto resgata o Recife dos meus afetos

Filme de Kleber Mendonça Filho me traz lembranças de cinemas e filmes vistos nos anos 1970.

Publicado em 27/10/2025 às 7:02


				
					O Agente Secreto resgata o Recife dos meus afetos
Foto/Reprodução.

A foto que abre esse post é da frente do Cine São Luiz, no Recife. O cinema, que ainda funciona, fica na esquina da Rua da Aurora com a Avenida Conde da Boa Vista.

A foto, provavelmente, é de 1977, o ano em que o King Kong de John Guillermin foi exibido. O remake do clássico de 1933 tinha Jessica Lange à frente do elenco.

O Cine São Luiz foi inaugurado no início dos anos 1950 e, até a inauguração do Cine Veneza, duas décadas mais tarde, era o cinema mais luxuoso do Recife.

Aos 15 anos, em dezembro de 1974, burlei o fiscal de menores para ver a estreia de O Exorcista no Cine São Luiz. Uma sessão da tarde com a sala totalmente lotada.


				
					O Agente Secreto resgata o Recife dos meus afetos
Foto/Reprodução.

Aos 17, em abril de 1977, vi Rede de Intrigas no São Luiz, numa sessão de domingo à noite. Centenas de pessoas iam aos cinemas do centro do Recife nos domingos à noite.

Além do São Luiz, havia o Cine Trianon, do outro lado da ponte, na esquina da Rua do Sol com a Avenida Guararapes. E, por trás do Trianon, ficava o Cine Art Palácio.

Se você saísse caminhando do Cine Trianon em direção ao restaurante Ilha do Leite, tradicionalíssimo, no trajeto, encontraria mais um cinema de rua, o Moderno.

O Cine Veneza estava a alguns quarteirões do São Luiz. Ficava no térreo de um edifício na Rua do Hospício e era a sala mais luxuosa e, àquela altura, mais moderna do Recife.

Depois, ainda nos anos 1970, vieram os cines Astor e Ritz, um ao lado do outro, ali nas vizinhanças do Parque 13 de Maio. Eram salas modernas e sofisticadas.


				
					O Agente Secreto resgata o Recife dos meus afetos
Foto/Reprodução.

São Luiz, Trianon, Art Palácio, Moderno, Veneza, Astor e Ritz. Sete cinemas de rua na área central do Recife na década de 1970. Quem foi contemporâneo sabe como era bom.

Esses cinemas de rua do Recife pertenciam a duas companhias exibidoras que dominavam o mercado brasileiro: Luiz Severiano Ribeiro, a mais poderosa, e a Art Filmes.

Também havia sessões de cinema no Teatro do Parque, além da pequena sala no alto do edifício da AIP, na Avenida Dantas Barreto, com programação de cinema de arte.

Todos esses cinemas e os muitos filmes que vi neles - sobretudo durante a minha adolescência, na década de 1970 - fazem parte do Recife dos meus afetos.


				
					O Agente Secreto resgata o Recife dos meus afetos
Foto/Reprodução.

Se o São Luiz me traz a lembrança da estreia de O Exorcista, o Veneza me remete a Uma Mulher Descasada, que vi com o amigo/ator Everaldo Pontes em 1979.

Eu e Everaldo fazíamos hora no centro do Recife para, mais tarde, assistirmos ao show Clube da Esquina 2 no Teatro do Parque, com Milton Nascimento e seus amigos.


				
					O Agente Secreto resgata o Recife dos meus afetos
Foto/Reprodução.

Se o Trianon me traz a lembrança de ver Jesus Cristo Superstar em 1974, o Moderno me remete a O Império dos Sentidos, cujo erotismo levava multidões aos cinemas.

Vi O Império dos Sentidos no feriado de Nossa Senhora da Conceição, no oito de dezembro de 1980. Ficou marcado porque John Lennon foi morto no fim daquele dia.


				
					O Agente Secreto resgata o Recife dos meus afetos
Foto/Reprodução.

Janis no Art Palácio, Tommy no Astor, Woodstock (em reprise) no Ritz, Os Doces Bárbaros no Astor, Fillmore no Moderno, A Hard Days Night (no relançamento dos anos 1970) no AIP. Em todos esses filmes, me atraía o encontro do cinema com a música.

Adolescente, eu saía do Liceu, tomava o ônibus da Bonfim na rodoviária da Feira da Primavera e me mandava para o Recife a tempo de ver a primeira sessão da tarde.

Depois da sessão, fazia um lanche na rua e pegava o ônibus de volta para casa. Meu pai e minha mãe eram muito liberais, mas só raramente sabiam dessas minhas aventuras.

Memórias, memórias. Lembranças, lembranças. Um adolescente na sala escura dos cinemas de rua do Recife. Esse "filme" voltou por causa de O Agente Secreto.

Do Recife, Kleber Mendonça Filho faz cinema para o mundo. O Recife, sua cidade, também é personagem de quatro dos seus cinco filmes de longa-metragem.

Seu Alexandre é o projecionista do Cine Art Palácio, personagem da vida real em Retratos Fantasmas,classificado como um documentário. Seu Alexandre, agora, é o projecionista do Cine São Luiz, personagem da ficção em O Agente Secreto.

O Cine Boa Vista, que ainda não mencionei nesse post, era um cinema de rua de segunda linha que ficava na Boa Vista, um bairro da região central do Recife.

O Cine Boa Vista virou um banco de sangue e não uma igreja neopentecostal. Foi assim na vida real, e é assim na ficção, no surpreendente desfecho de O Agente Secreto.


				
					O Agente Secreto resgata o Recife dos meus afetos
Foto/Divulgação.

Em O Agente Secreto, Marcelo/Armando, o personagem de Wagner Moura, chega ao Recife no carnaval de 1977. Lá na frente, há uma cena em que, da janela da cabine de projeção do São Luiz, ele vislumbra o rio, a ponte e, do outro lado, o Edifício Trianon.

O Recife de 1977 que o personagem de Wagner Moura vê nesta cena de O Agente Secreto é um absoluto primor se pensarmos no quesito reconstituição de época.

Como no velho, imenso e nostálgico frevo de Antônio Maria, o Recife está dentro de Kleber Mendonça Filho. É onde ele nasceu, vive e, desde O Som ao Redor, faz filmes no nível dos melhores filmes do mundo. O Recife também está dentro de mim.

Foto/Reprodução

Silvio Osias

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