SILVIO OSIAS
O bem em Schindler e o mal em Netanyahu
Faz 80 anos que os prisioneiros de Auschwitz foram libertados.
Publicado em 29/01/2025 às 7:30
Nesta segunda-feira, 27 de janeiro de 2025, fez 80 anos que o exército russo libertou os prisioneiros do campo de concentração de Auschwitz, na Polônia. É uma data histórica para a humanidade, a ser lembrada todos os anos.
Infelizmente, é uma data que, no presente, remete tristemente ao genocídio que, desde outubro de 2023, o governo de Israel, sob Benjamin Netanyahu, comete em Gaza. Os números são menores, mas não as atrocidades de judeus contra palestinos.
Mas falemos de cinema. Falemos de A Lista de Schindler e de um convite que, certa vez, Steven Spielberg fez a professores e estudantes do mundo inteiro.
O cineasta sugeriu que eles procurassem a Fundação Shoa em busca de informações sobre o Holocausto. E que ajudassem a manter viva a memória do que aconteceu com os judeus durante a II Guerra.
Na época em que filmou Schindler, Spielberg patrocinou o registro de depoimentos das vítimas do Holocausto e de seus descendentes. Este material pertence à Shoa. O acesso às gravações e a sua difusão fazem parte da luta por um mundo melhor e mais tolerante.
A Lista de Schindler me traz a lembrança do dia em que fui apresentado ao filme. Da emoção que ele provocou. E da força extraordinária do seu desfecho.
Todas as vezes, o final – no salto da ficção para a realidade, do preto & branco para a cor – me enche os olhos de lágrimas. E sempre remete a um texto de Roger Ebert, o grande crítico de cinema americano.
Ele também se comovia com o desfecho do filme, com o instante da passagem do preto & branco para a cor: “Estes são os judeus de Schindler. Estamos olhando para os sobreviventes e seus filhos ao visitar o túmulo de Schindler".
Ainda Ebert: "O filme começa com uma lista de judeus que estão sendo confinados num gueto. Termina com uma lista dos que conseguiram se salvar. A lista é um bem absoluto. A lista é vida. Tudo à sua volta é aterrorizador”.
O reencontro com o filme de Spielberg reforça a convicção de que devemos ter um compromisso permanente de rejeição ao nazismo e seus males. Se a lista – como afirmava Ebert – é um bem absoluto, o nazismo é a encarnação de um mal que estamos enxergando em tantas manifestações do mundo contemporâneo.
A Lista de Schindler me lembra a tarde em que levei ao Cine Municipal, com uma equipe de televisão ao lado, um judeu que esteve num campo de concentração e, depois da guerra, fez de João Pessoa o seu lar. Foi uma experiência comovente para mim e assustadora para ele, que reviu na tela o que tinha conhecido na vida real.
Vi A Lista de Schindler pela primeira vez numa sala lotada. A câmera na mão faz pensar que estamos diante de um documentário e não de um filme de ficção. O preto & branco também.
Spielberg lança mão da cor quando registra a realidade, no salto do passado para o presente. A sequência é curta. E emocionante. Provoca lágrimas. Mas, naquela sessão, provocou aplausos.
Se fosse num festival de cinema, seria normal. O público bate palmas após a exibição de um filme com diretor e elenco na plateia. Não era o caso.
As pessoas que enchiam o Municipal aplaudiram talvez porque intuissem que a lista era um bem absoluto. Ainda que estivessem tão longe daquela história e de quem a filmou. O filme de Spielberg também é um bem absoluto.
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