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SILVIO OSIAS

O branco mais preto do Brasil morreu há 45 anos

Um edema pulmonar agudo matou Vinícius de Moraes no dia nove de julho de 1980.

Publicado em 09/07/2025 às 4:35 | Atualizado em 09/07/2025 às 8:03


				
					O branco mais preto do Brasil morreu há 45 anos
Foto/Reprodução.

Em 1980, na redação de A União, tínhamos a AP (Associated Press), a United Press International (UPI) e a Agência Jornal do Brasil (AJB). As máquinas "vomitavam" notícias sem parar. Não havia internet, e era como sabíamos do Brasil e do mundo.

Na manhã daquela quarta-feira, nove de julho de 1980, a notícia veio logo cedo pelo teletipo da AJB: Vinícius de Moraes morreu no Rio de Janeiro durante a madrugada. O poeta e compositor teve um edema pulmonar agudo. Estava com 67 anos.

Nesta quarta-feira, nove de julho de 2025, faz 45 anos da morte de Vinícius de Moraes. Ele se dizia o branco mais preto do Brasil, e isso era comovente no Brasil do tempo de Vinícius, e é ainda hoje num país hipócrita e profundamente racista.

"Eu, por exemplo, o capitão do mato Vinícius De Moraes/Poeta e diplomata/O branco mais preto do Brasil/Na linha direta de Xangô, saravá!" - está no Samba da Bênção, uma das joias da parceria de Vinícius com Baden Powell.

Vinícius de Moraes, nascido Marcus Vinícius da Cruz de Mello Moraes em 19 de outubro de 1913, foi um grande artista e um grande brasileiro. Viveu no cerne do afeto, como disse Gilberto Gil, e é assim que gosto sempre de lembrar dele.

Vinícius de Moraes já era um poeta famoso quando decidiu fazer letra de música popular. O momento crucial foi em 1956, o ano em que se formou a parceria entre Antônio Carlos Jobim e Vinícius de Moraes. Simplificando: Tom e Vinícius.

Em Orfeu da Conceição, Vinícius trouxe para os morros do Rio de Janeiro o mito grego de Orfeu. O texto do espetáculo e as letras das canções eram dele. As músicas, quem fez foi Tom Jobim, então com 29 anos. No palco, todo o elenco era formado por negros.

"Se todos fossem iguais a você/Que maravilha viver/Uma canção pelo ar/Uma mulher a cantar/Uma cidade a cantar/A sorrir, a cantar, a viver/A beleza de amar...".

Ou: "Existiria a verdade/Verdade que ninguém vê/Se todos fossem no mundo iguais a você". Dizia a letra de Se Todos Fossem Iguais a Você, canção de Orfeu da Conceição que entraria para a antologia do cancioneiro popular brasileiro.

Há muitos Vinícius em Vinícius de Moraes, o artista. Havia o diplomata apaixonado pelo jazz dos pretos da América e também o cinéfilo que, muito ao seu modo, exerceu a crítica de cinema. Está tudo compilado nos livros.

Havia o grande poeta que fazia poesia canônica e migrou para o universo da música popular. Foi muito criticado por sua adesão à letra de música. Injustamente, porque inovou e brilhou nesse terreno que se fez ainda mais fértil com a sua presença.

Não há bossa nova sem João Gilberto, seu canto cool e seu violão. Não há bossa nova sem as melodias de Tom Jobim. Não há bossa nova sem os versos de Vinícius. Há muitos outros nomes, mas a bossa nova é, sobretudo, filha do talento desses três homens.

Vinícius e seus "parceirinhos": Tom Jobim, Carlos Lyra, Pixinguinha, Moacir Santos, Francis Hime, Edu Lobo, Chico Buarque, Toquinho. Foram tantos. Com um deles, o violonista Baden Powell, inventou um negócio extraordinário chamado afro-sambas.


				
					O branco mais preto do Brasil morreu há 45 anos
Foto/Reprodução.

Os afro-sambas estão num disco lançado em meados dos anos 1960. O álbum não é essencial. É essencialíssimo. Se você não conhece, corra, ainda dá tempo: ouça os afro-sambas de Baden e Vinícius. São fundadores de algo novo na música brasileira.

Esses muitos Vinícius de Moraes estão no filme Vinícius, que Miguel Faria Jr. realizou em 2005. É um misto de documentário e ensaio poético conduzido por Ricardo Blat e Camila Morgado. Um belo retrato do artista com poesia, depoimentos e números musicais.

Guardei na memória uma frase que li naquele nove de julho de 1980 em que perdemos Vinícius de Moraes: "Um edema não é um poema e não mata um poeta".

À noite, na TV, vi Carlos Drummond de Andrade e Chico Buarque no velório. Enquanto as pessoas cantavam: "Chega de saudade/A realidade é que sem ela não há paz/Não há beleza, é só tristeza e a melancolia/Que não sai de mim, não sai de mim, não sai".

Foto/Reprodução

Silvio Osias

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