SILVIO OSIAS
O Brasil tem o que comemorar, e Anora não era o melhor filme
Quem merecia o Oscar principal era O Brutalista.
Publicado em 03/03/2025 às 7:40 | Atualizado em 03/03/2025 às 8:53
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Os palpiteiros do Oscar erram quase sempre e, ao final, parecem surpresos com o que não tem nada de surpreendente. Com Oscar, evito fazer previsões.
Sobre o Brasil, especificamente, digo que esse clima de Copa do Mundo tira das pessoas a capacidade de entender as coisas com um mínimo de equilíbrio.
Anora saiu da cerimônia do Oscar como o grande vencedor: Melhor Filme, Melhor Atriz, Melhor Direção, Melhor Montagem e Melhor Roteiro Original.
Vi sete dos dez filmes que disputaram o prêmio mais importante (só não vi Wicked, Duna: Parte 2 e Nickel Boys), e não era difícil enxergar, nos últimos dias, o crescimento de Anora e a sua condição de grande favorito.
Gosto muito pouco de Anora. Como não gostei nem um pouco de Pobres Criaturas no ano passado. Questão de gosto mesmo. Anora não era o melhor filme entre os dez que disputaram a categoria máxima no Oscar 2025. Opinião pessoal.
Para mim, o melhor filme entre os dez e o mais merecedor do prêmio máximo era O Brutalista. O Brutalista é um filme simplesmente monumental.
Adrien Brody, felizmente, levou a estatueta de Melhor Ator por seu desempenho extraordinário em O Brutalista. Repetiu O Pianista, de 2002.
Brody tinha 29 anos quando, sob Roman Polanski, fez O Pianista. Agora, sob Brady Corbet, em O Brutalista, tem 51 anos. Seu discurso de agradecimento foi belo, comovente e altamente necessário nesse momento de avanço da ultradireita no mundo.
O Brutalista levou outros dois prêmios. Todos dois, muito importantes. O de Melhor Fotografia e o de Melhor Trilha Sonora. Merecia mais. Tinha dez indicações.
Zoe Saldaña ficou com a estatueta de Melhor Atriz Coadjuvante por Emilia Perez. O filme com maior número de indicações (13) venceu na categoria Melhor Canção Original com El Mal. Premiações justas. Forte e admirável a fala de agradecimento de Saldaña.
Demi Moore, por A Substância, Fernanda Torres, por Ainda Estou Aqui, e Mikey Madison, por Anora, eram as favoritas na disputa pelo Oscar de Melhor Atriz.
Deu Mikey Madison, atriz de 25 nos que Quentin Tarantino dirigiu em Era Uma Vez em Hollywood. Madison, Moore, Torres. Moore e Torres eram mais merecedoras.
Conclave entrou na festa com dez indicações e saiu com apenas uma estatueta, a de Melhor Roteiro Adaptado. O filme vem do livro de Robert Harris, de 2016.
O Melhor Roteiro Original foi o de Anora, de Sean Baker, diretor americano de 54 anos. Sean Baker também venceu por Melhor Direção e Melhor Montagem.
Ninguém, com um mínimo de bom senso, podia acreditar que Ainda Estou Aqui seria o vencedor na categoria principal. Era de uma improbabilidade completa.
A vitória de Fernanda Torres como Melhor Atriz, por seu extraordinário desempenho em Ainda Estou Aqui, era perfeitamete possível. Mas não deu. O que é uma pena.
A vitória de Ainda Estou Aqui como Filme Internacional era a mais provável se pensarmos nas três categorias para as quais o filme de Walter Salles foi indicado.
Deu Certo. Ainda Estou Aqui saiu da cerimônia com o Oscar de Filme Internacional, prêmio justíssimo, que orgulha o Brasil e os brasileiros que creem na democracia.
Ainda Estou Aqui é um triunfo do cinema brasileiro por tudo o que já conseguiu e principalmente por ter sido visto por mais de cinco milhões de brasileiros.
Ainda Estou Aqui denuncia os crimes da ditadura militar num momento em que é imprescindível denunciar crimes cometidos pelo Estado brasileiro.
Cinema é bom no cinema. Viva o cinema independente. Viva o cinema brasileiro. São frases que me ocorreram depois que a festa do Oscar terminou.
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