SILVIO OSIAS
O carnaval deve ser politicamente incorreto!
Publicado em 02/02/2017 às 6:00 | Atualizado em 31/08/2021 às 7:46
Há pouco mais de um ano, fui ver o duo acústico de Caetano Veloso e Gilberto Gil (Dois Amigos, Um Século de Música) e senti o impacto de reouvir a canção Tropicália ao vivo.
Um retrato do Brasil de 1967/68 a atravessar o tempo e ainda surpreender a plateia com a força dos seus versos e - nas palavras de Caetano - a sua estranha atualidade.
Pois bem, agora, que entramos nessas semanas que antecedem o carnaval, vejo que, no Rio de Janeiro, querem banir Tropicália do repertório de um bloco por causa da palavra mulata.
O monumento é de papel crepom e prata
Os olhos verdes da mulata
Mulata é uma palavra de cunho racista, dizem os que querem que a música não seja cantada pelos foliões.
Voltamos às trevas!
Como falta inteligência a tantas dessas atitudes guiadas pelo politicamente correto!
A censura não se restringe a Tropicália, que não é uma canção carnavalesca. Se estende a várias marchinhas dos carnavais do passado, hoje, clássicos do nosso cancioneiro popular.
Uma delas é a Cabeleira do Zezé. Homofóbica? Claro!
A outra é O Teu Cabelo Não Nega. Racista? claro!
Óbvio que não tenho dúvida do racismo de uma e da homofobia da outra. Mas são de uma inocência que as torna absolutamente inofensivas.
Ninguém está pensando em racismo quando canta "e como a cor não pega, mulata, mulata quero o teu amor"!
Ninguém está pensando em homofobia quando canta "será que ele é, será que ele é"!
É apenas carnaval!
Festa da carne, dos excessos, da alegria, da melancolia! Da música, da dança, da irreverência, da liberdade!
Não cabe essa patrulha sobre os blocos e seus foliões!
Não tem cabimento que invoquem o politicamente correto no carnaval. Não combina, definitivamente, com o espírito da festa.
Então, viva o carnaval!
E, ao menos nos dias de folia, sejamos politicamente incorretíssimos!
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