SILVIO OSIAS
O presidente errou. Prefeitos e governadores também vão errar
Publicado em 05/06/2020 às 7:03 | Atualizado em 30/08/2021 às 20:36
Há muitos anos, numa das redações por onde passei, vi um secretário estadual defender a tese de que era preciso subnotificar os números de uma epidemia.
Os dados divulgados em boletins diários, segundo ele, prestavam um desserviço ao governo.
Mas não foi o governo que inventou a doença - disse alguém que tinha bom senso.
Lembrei desse episódio nesta quarta-feira (03) e nesta quinta-feira (04).
Por dois dias, o Ministério da Saúde atrasou a divulgação dos números da pandemia do novo coronavírus.
O que de fato provocou o atraso?
Os boletins só foram liberados por volta das 22 horas.
Tarde o suficiente para que não abrissem o Jornal Nacional? - podemos perguntar.
Os números foram alarmantes.
No primeiro dia, 1349 mortes registradas em 24 horas.
No segundo dia, 1473 óbitos registrados em 24 horas.
No Brasil, um morto por minuto - estampava a Folha em manchete ontem à noite, com seu site em fundo preto.
Semanas atrás, ficávamos chocados com 400 ou 500 mortes diárias na Itália, que já foi epicentro da pandemia e ofereceu ao mundo cenas de horror.
"A Covid-19 é uma gripezinha".
Ou: "O vírus está indo embora".
É tão óbvio. Desde o início, o presidente Jair Bolsonaro errou, estimulando seus apoiadores (são muitos!) a errar também e disseminar o vírus.
Erraram o presidente e o governo. Continuam errando.
Agora, são os prefeitos e governadores, que adotaram uma postura séria em relação à pandemia, que começam a errar.
Com o número de infectados e mortos crescendo, com o sistema de saúde operando com limitações gigantescas, será que é hora de, em nome da tragédia econômica que se avizinha, relaxar as restrições impostas à população?
O Brasil vai mesmo colocar a tragédia humana em segundo plano?
Parece que sim.
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