SILVIO OSIAS
O que leva o presidente da República a mandar falsificar o cartão de vacinação?
Publicado em 20/03/2024 às 8:41
Quarta-feira, 18 de março de 2020. Foi quando entrei em isolamento social por causa da Covid. A pandemia estava começando, e logo passamos a testemunhar as mortes. Parentes, amigos, conhecidos, gente famosa, gente anônima. No Brasil, foram mais de 700 mil pessoas.
O ministro Mandetta ficou do lado da vida. O presidente Bolsonaro ficou do lado da morte. Não era fácil explicar o que levava o presidente da República a ficar do lado da morte e não da vida. Uma liderança política como ele deveria, naturalmente, ter comandado uma cruzada pela vida.
Há quem diga que Bolsonaro é inteligente. Se Bolsonaro fosse inteligente, teria se colocado à frente de todos os esforços de combate à Covid e, hoje, o presidente não seria Lula. Sua reeleição estaria garantida. O caminho da morte não haveria de lhe render mais votos do que o caminho da vida.
Segunda-feira, 18 de março de 2024. Dois dias atrás, lembrei do início do isolamento. Lembro todo ano. Agora são quatro anos. Quatro anos, um episódio de depressão já superado e um cartão de vacinação com as seis doses que recebi a partir de abril de 2021.
Terça-feira, 19 de março de 2024. O noticiário dá conta do indiciamento do ex-presidente Jair Bolsonaro por ter mandado falsificar o cartão de vacinação. Pergunto o que leva o presidente da República a recusar a vacina e a mandar falsificar o cartão de vacinação. E não encontro resposta.
Uns dirão que Bolsonaro é um homem essencialmente mau, perverso, com gravíssimos desvios de caráter. Outros dirão que ele é um psicopata, um deliquente de altíssima periculosidade. Não vou julgá-lo. Sua presença entre nós já me exauriu.
Sou a favor da tortura. É preciso matar 30 mil pessoas, inclusive Fernando Henrique Cardoso - lembro de Bolsonaro, jovem deputado, dizendo esses absurdos num programa de televisão. Deveria ter sido varrido da vida pública, como foi do Exército, mau militar que era.
No Congresso, foi tolerado pelos seus pares. Deu no que deu. Foi presidente, tramou um golpe de estado, está inelegível e permanece politicamente vivo e perigoso. É o líder político de milhões de brasileiros, representante de uma patologia chamada bolsonarismo.
Não há explicação que me convença de como um político com os defeitos de Bolsonaro chegou a ser presidente da República. Do mesmo modo, nenhum argumento me parecerá plausível para justificar o fato de que o presidente da República mandou falsificar um cartão de vacinação.
O indiciamento pela fraude no cartão de vacinação é o primeiro de outros indiciamentos que certamente virão. Se a Justiça entender que Bolsonaro é um criminoso, o ex-presidente deverá pagar pelos crimes que cometeu. Não haverá de ser de outra maneira.
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