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SILVIO OSIAS

O único santo da música popular brasileira morreu na sacristia de uma igreja

Publicado em 17/02/2023 às 6:06 | Atualizado em 21/02/2023 às 16:58


                                        
                                            O único santo da música popular brasileira morreu na sacristia de uma igreja

Nesta sexta-feira, faz 50 anos. No dia 17 de fevereiro de 1973, Pixinguinha foi à Igreja de Nossa Senhora da Paz batizar o filho de um amigo. Estava com 74 anos. Nas ruas, debaixo de chuva, a Banda de Ipanema desfilava. Na igreja, o músico passou mal e foi atendido na sacristia. Morreu ali mesmo, vitimado por um enfarte fulminante. Quando receberam a notícia, os foliões seguiram no desfile da banda, cantando Carinhoso e homenageando o compositor que, para muita gente, não é Pixinguinha, mas São Pixinguinha.

Sabem Louis Armstrong e o Hot Seven? Ou o Hot Five? Sem o que Armstrong produziu com o seu grupo, nos anos 1920, o jazz não seria o que mais tarde veio a ser. Na sonoridade daquele conjunto, estão matrizes, fontes da música popular estadunidense do século XX, das improvisações ao canto. Pixinguinha fez algo equivalente no Brasil da mesma época. Pixinguinha e o conjunto Os Oito Batutas. O compositor, sua flauta e seu conjunto, produzindo sons com os quais ajudaria a construir o futuro da música popular brasileira. Quando trocou a flauta pelo sax, formou dupla com o flautista Benedito Lacerda, com quem gravou números antológicos.

Batizado Alfredo da Rocha Vianna Filho, Pixinguinha tem o Tema do Urubu Malandro, tem Lamentos, 1 x 0, Rosa, Os Cinco Companheiros, Ingênuo, Sofres Porque Queres. E tem Carinhoso. Sobretudo Carinhoso. Originalmente, um tema instrumental que Pixinguinha escreveu por volta de 1916. Foi muito criticado, chamado de americanizado, de jazzista. A melodia ficou guardada por duas décadas até que, em 1937, recebeu letra de João de Barro, o Braguinha, foi gravada por Orlando Silva e se transformou numa das mais belas, populares e importantes canções da música brasileira.

"Meu coração, não sei por quê, bate feliz, quando te vê...". Muita gente pode até não saber quem compôs essa melodia nem quem escreveu seus versos, mas é difícil não conhecê-la. Paulinho da Viola diz que, se você entrar num bar, e as pessoas começarem a cantar Carinhoso, certamente você vai atrás, cantando também. E é verdade. Para Paulinho, Carinhoso está no topo, ocupa o primeiríssimo lugar no nosso cancioneiro popular.

Em 1938, Carinhoso recebeu uma versão sinfônica que o próprio Pixinguinha escreveu para a Rádio Mayrink Veiga. O vídeo está no final da coluna na execução da Orquestra Sinfônica Brasileira. Trago mais três versões de Carinhoso: o vídeo de Marisa Monte, com Paulinho da Viola ao violão, e os áudios das gravações de Orlando Silva (1937) e de Tom Jobim (1970).

A foto que ilustra a coluna é de Walter Firmo.  

CARINHOSO

Orlando Silva

CARINHOSO

Antônio Carlos Jobim

CARINHOSO

Marisa Monte e Paulinho da Viola  

CARINHOSO

Orquestra Sinfônica Brasileira

Imagem ilustrativa da imagem O único santo da música popular brasileira morreu na sacristia de uma igreja

Silvio Osias

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