icon search
icon search
home icon Home > cultura > silvio osias
compartilhar no whatsapp compartilhar no whatsapp compartilhar no telegram compartilhar no facebook compartilhar no linkedin copiar link deste artigo
Compartilhe o artigo
compartilhar no whatsapp compartilhar no whatsapp compartilhar no telegram compartilhar no facebook compartilhar no linkedin copiar link deste artigo
compartilhar artigo

SILVIO OSIAS

Ontem, quem morreu de Covid foi Wellington Pereira. Amanhã, morreremos eu e você

Publicado em 20/03/2021 às 6:36 | Atualizado em 30/08/2021 às 20:53


				
					Ontem, quem morreu de Covid foi Wellington Pereira. Amanhã, morreremos eu e você

A sexta-feira (19) terminou com a notícia da morte de Wellington Pereira.

Jornalista, professor de jornalismo, escritor - um dos grandes caras da minha geração.

Foi levado rapidamente pela Covid. Dias antes, perdera o irmão, também infectado pelo novo coronavírus.

Na nossa última conversa, numa livraria, antes da pandemia, me disse que estava morrendo.

Wellington não tinha saúde. Enfrentava, há muitos anos, um quadro severo de diabetes.

Não sei, mas isto pode ter feito dele um paciente sem forças para a Covid.

A morte de Wellington Pereira me remeteu a uma crônica de Nelson Rodrigues sobre a morte de Guimarães Rosa.

Nem sou Nelson Rodrigues nem Wellington era Guimarães Rosa, mas vocês vão entender o que quero dizer.

Na crônica, Nelson descreve o impacto diante da inesperada notícia da morte do autor de Grande Sertão: Veredas.

E se põe a falar sobre o morto.

Mas a morte de Guimarães Rosa não é o maior problema.

No fim do texto, o cronista descobre que está assustado com a sua própria morte. E, se não me falha a memória, vai para a varanda do apartamento e diz mais ou menos assim: "Puxa, hoje é ele, amanhã serei eu".

Voltando ao mundo das pessoas comuns (Nelson Rodrigues e Guimarães Rosa, definitivamente, não eram pessoas comuns), penso que a tristeza pela morte de um amigo como Wellington Pereira se confunde, neste momento, com o medo da nossa morte, a minha e a sua.

A pandemia, no ponto em que ela chegou, nos coloca diante desta realidade.

Quando não estão dentro das nossas casas, os contaminados e os mortos estão bem perto de nós. É um parente, um amigo, um colega de trabalho, uma pessoa conhecida, um artista admirado.

Sabe quem está com Covid?

Sabe quem foi intubado?

Sabe quem morreu?

É o que ouvimos todos os dias.

Vivemos essa tragédia monumental e ainda não enxergamos uma saída.

O governo brasileiro sabota sistematicamente o combate à pandemia, o presidente pensa em estado de sítio, e todos testemunham o que está ocorrendo sem a necessária reação.

Medo?

Tenhamos medo!

Muito medo!

Ontem, quem morreu de Covid foi Wellington Pereira.

Amanhã, morreremos eu e você.

Imagem ilustrativa da imagem Ontem, quem morreu de Covid foi Wellington Pereira. Amanhã, morreremos eu e você

Silvio Osias

Tags

Comentários

Leia Também

  • compartilhar no whatsapp
  • compartilhar no whatsapp
    compartilhar no whatsapp
  • compartilhar no whatsapp
  • compartilhar no whatsapp
  • compartilhar no whatsapp