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SILVIO OSIAS

Os Beatles eram amados por um mestre da música clássica do século XX

Nesta quinta-feira, 10 de abril de 2025, faz 55 anos que Paul McCartney anunciou o fim do grupo.

Publicado em 10/04/2025 às 10:32


				
					Os Beatles eram amados por um mestre da música clássica do século XX
Foto/Reprodução.

Hoje é quinta-feira, 10 de abril de 2025. No dia 10 de abril de 1970, Paul McCartney, através de uma pequena nota, anunciou o fim dos Beatles. Há 55 anos.

No começo da década de 1970, adolescente, eu me perguntava por quanto tempo ainda iríamos ouvir os Beatles. 10 anos? 20 anos? Bem, já se foram 55 desde o fim.

Na semana passada mesmo, foram divulgados os nomes e as imagens dos atores que logo vão viver os Beatles no cinema. Só que não será uma cinebiografia. Serão quatro cinebiografias, todas elas dirigidas pelo cineasta britânico Sam Mendes.

Quando as pessoas perguntam a minha opinião sobre qual é a maior banda da história do rock, eu não tenho qualquer dúvida: os Rolling Stones.

Sim. E os Beatles? Os Beatles são os Beatles. Eles estão acima de tudo. Fora de qualquer competição. É como Billie Holiday para as cantoras de jazz.

A maior cantora de jazz, a mais clássica, a mais incrível, é Ella Fitzgerald, a diva dos songbooks, a rainha do scat. E Billie Holiday? Billie Holiday também está acima de tudo, fora de qualquer competição. Lady Day está sobre Ella.

Experimente. Nem precisa recorrer aos álbuns de carreira. Pegue as duas coletâneas duplas (Red Album e Blue Album), agora remixadas e ampliadas, e constate a beleza que há nesse conjunto de canções tão simples, mas tão arrebatadoras e perenes.

Sempre que vejo alguém diminuindo os Beatles, e há quem o faça, penso num dos grandes mestres da música clássica do século XX: o maestro Leonard Bernstein.

O amor de Leonard Bernstein pelos Beatles é um argumento forte contra os que querem cortar o barato dos Beatles. Esse texto que transcrevo a seguir é dele. Foi publicado como prefácio de uma biografia do quarteto lançada em 1982. A capa é de Andy Warhol.


				
					Os Beatles eram amados por um mestre da música clássica do século XX
Foto/Reprodução.

“Me apaixonei pela música dos Beatles (e, ao mesmo tempo, por aquelas quatro caras cum persone) junto com meus filhos, duas meninas e um garoto, ao descobrir aquele falsete fabuloso gritado-sussurrado, aquela batida irresistível, a entonação perfeita, as letras completamente novas, a torrente schubertiana de invenção musical e a nonchalance tipo Danem-se esses Quatro Cavalheiros do Nosso Apocalipse.

Jamie tinha doze anos, Alexander, nove, e Nina, dois. Juntos, nós vimos A Visão, em nossas formas inevitavelmente distintas (eu tinha 46 anos!), mas vimos a mesma Visão, e ouvimos o mesmo Pássaro-da-Manhã, Trombeta-do-Elefante, Fanfarra-do-Futuro.

Que futuro? Cá estamos nós, quinze anos se passaram, aquilo passou. Porém, durante uma década mais ou menos, ou ainda menos, aquilo permaneceu a mesma Visão-Clarim, cada vez mais concludente e irrefutável, mais clara, mais amarga – e melhor.

Talvez o mais claro, mais amargo (e quem sabe melhor) foi um disco chamado Revolver (pace Sgt. Pepper, Abbey Road et al). Nesse álbum, a melhor coisa, talvez, era uma musiquinha chamada She said she said; pensar nela, lembrar-se dela traz imediatamente à memória toda a beleza daquelas Veias Varicosas Vietnamitas.

As notas cicatrizavam, a letra incomodava; ou talvez fosse vice-versa. Mas alguma coisa incomodava, e alguma coisa cicatrizava, ano após ano, Rigby após Rigby, Paperback após Norwegian, talvez expressa às últimas consequências na verdade vislumbrante e triste de She’s leaving home.

Enquanto isso, aparecia um volume fino, de pura genidalidade verbal de um ator novo, chamado John Lennon: in his own write. Como se isso não bastasse para a lenda, ainda havia as notas (e a voz de sereia-sílfide) de um tal McCartney.

Esses dois formavam uma dupla que incorporou uma criatividade quase nunca igualada naquela década feliz. Ringo – um ator-instrumentista adorável. George – um talento místico irrealizado.

Porém, John e Paul, São João e São Paul, eram, e fizeram, e aureolaram, beatificaram e eternizaram o conceito que será sempre conhecido, lembrado e profundamente amado como The Beatles.

E, se os depois foram simplesmente isso, os quatro foram O Todo. Essa interdependência deixava atônito, chapava, às vezes dava pavor; vamos mesmo precisar disso tudo Quando Tivermos 64 Anos? Bem, hoje estou beirando os 64, e três compassos de A day in the life bastam para me sustentar, rejuvenescer, excitar meus sentidos e sensibilidades.

Nina, que tinha dois anos em 64, agora tem dezessete; e ainda na semana passada pegamos aquele livro grosso e infeliz de partituras mal tiradas dos Beatles para ficar relembrando no piano.

Nós choramos, e demos pulos de alegria com as redescobertas (She’s a woman) – só nos dois, durante horas (Ticket to ride, A hard day’s night, I saw her standing there)…

Isso foi a semana passada. Os Beatles não existem mais. Mas esta semana ainda estou pulando, chorando, recordando uma época boa, uma década de ouro, bons tempos, bons tempos…

LEONARD BERNSTEIN/9 de outubro de 1979″

Foto/Reprodução

Silvio Osias

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