SILVIO OSIAS
Os filhos de Bolsonaro ficam brincando com fogo
Vídeo do senador Flávio levou à decretação da preventiva do pai.
Publicado em 22/11/2025 às 12:53

Não sou da editoria de política. Como jornalista, meu negócio é, preferencialmente, a área de cultura. Música e cinema, sobretudo, sabe quem me lê. Mas, desde sempre, sou observador da cena política. Acho atraente e necessário ao profissional e ao cidadão.
Historiadores, cientistas políticos, juristas, sociólogos, antropólogos, jornalistas que cobrem e comentam política - todos eles explicam esse fenômeno chamado Jair Bolsonaro. Eu, não. Tenho 66 anos e vou morrer sem entender.
Para mim, desde 1989, já era absurdo demais que o Brasil tivesse posto na Presidência da República um homem como Fernando Collor de Mello. Mas ainda havia, de qualquer modo, alguma lógica dentro do reacionarismo incurável do nosso jogo político.
Mas Bolsonaro, não! Como um ser repulsivo, abominável, agressivo, grosseiro, tosco e pouco inteligente poderia, de repente, ser chamado de "mito" e se eleger presidente?
As elites brasileiras - aquelas a quem o professor Celso Furtado chamava de atrasadas - bem que poderiam ter encontrado outra saída dentro dos seus quadros tradicionais.
Deu no que deu. Jair Bolsonaro, que foi mau militar e péssimo deputado federal, chegou ao Planalto, transformado na segunda maior liderança política brasileira.
Havia homens inteligentes entre os militares que depuseram o presidente João Goulart em 1964 e passaram 21 anos no poder. E havia homens inteligentes entre os civis que estavam ao lado desses militares. Ditadura não presta, mas havia.
Hoje, quando a gente olha para a extrema direita brasileira, não parece haver a vida inteligente - Golbery, Roberto Campos, Delfim, Simonsen, Eduardo Portella, Jarbas Passarinho - que havia na ditadura. A serviço do mal, embora inteligentes.
Com Jair Bolsonaro presidente, o que a gente viu foi um monte de gente burra governando o país, a começar por ele e seus filhos políticos Flávio, Carlos e Eduardo.
Zambelli fugiu. Devia ter sido presa em flagrante com um revólver em punho na véspera da eleição de 2022. Prisão em flagrante, a legislação eleitoral permite.
Eduardo Bolsonaro "fugiu". Se autoexilou nos Estados Unidos e, desavergonhadamente, foi tramar contra o Brasil e nossa soberania - tudo em nome do pai.
Por último, Alexandre Ramagem fugiu. Delegado da Polícia Federal, agiu contra a democracia e está condenado como integrante do grupo crucial que, ignorando o resultado das eleições de 2022, tramou um golpe para manter Bolsonaro no poder.
Zambelli, Eduardo Bolsonaro, Ramagem. A notícia da fuga de Ramagem, nesta sexta-feira (21), acendeu o sinal amarelo. E Bolsonaro? Será que ele também não fugirá às vésperas do início da execução da pena a que foi condenado pela tentativa de golpe?
A fuga de Ramagem não poderia ser usada como argumento para a decretação da preventiva de Bolsonaro, mas, aí, eis que o filho senador Flávio fez a parte dele.
Tem gente da área de política que diz que Flávio Bolsonaro é o único normal da família do ex-presidente. E que é também o único com quem ainda se pode dialogar.
Pode até ser, mas foi ele que deu motivos para a decretação da prisão domiciliar e, agora, da prisão preventiva do ex-presidente Jair Bolsonaro. Primeiro, tornando pública uma mensagem de vídeo do pai, quando este cumpria medidas cautelares.
E, ontem, convocando apoiadores para uma vigília em frente ao condomínio onde Jair Bolsonaro cumpria a domiciliar decretada pelo ministro Alexandre de Moraes.
A cada novo vídeo, Eduardo Bolsonaro parece mais "surtado" e fora da realidade. A cada nova atitude, Flávio Bolsonaro não parece ser - como dizem os analistas políticos - o único normal da família. Nem um político inteligente.
Eduardo brinca com fogo nos Estados Unidos. Flávio brinca com fogo em Brasília. Só fizeram atrapalhar a vida do pai. Bolsonaro está preso e, convenhamos, fez por onde.

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