SILVIO OSIAS
Otinaldo Lourenço, Vladimir Carvalho e a história de uma bravata de velhos tempos
Publicado em 15/02/2021 às 6:25 | Atualizado em 30/08/2021 às 20:53
Pelo Messenger, comunico a morte de Otinaldo Lourenço ao cineasta Vladimir Carvalho.
Como resposta, recebo essa mensagem de Vladimir.
Com autorização dele, torno público o que era privado:
Silvio querido
A sua mensagem sobre o falecimento do estimado Otinaldo Lourenço chegou-me justamente, veja a coincidência, no momento em que eu assistia a um documentário da TV Senado com inúmeras intervenções do irmão dele, Zé Octávio, sobre a Revolta de Princesa. Ele, o Zezé, foi meu colega (Viva Onildo!) na primeira série do Liceu, cerca de 1949.
O saudoso Otinaldo, eu o enfrentei pelo menos uma vez, eu como integrante do time que inventei com a molecada da Camillo de Holanda e da Coremas, o Flâmula (o Fla inicial, claro, era uma alusão ao time de meu coração), e ele era o goleiro magricela do esquadrão da turma da Lagoa. O choque entre as guapas equipes se deu no concorrido campo do Liceu. Mesmo jogando em casa, levamos uma surra.
Corta.
O tempo voa, e a memoria é fraca: vou reencontrar Otinaldo em esporádicas ocasiões, ele já reconhecido pelas suas performances radiofônicas como comentarista esportivo e escrevendo textos políticos, na Rádio Arapuan. E foi aí que indiretamente nos cruzamos.
Por volta de 1960, eu estava a todo vapor participando da politica estudantil como aluno da Fafi. Juntei-me ao grupo de ativistas da UEE e com Amilton Almeida, seu presidente, o poeta José Bezerra Cavalcante, Hendrick Costa, Durval Leal (o pai) e outros que, insuflados por João Manoel de Carvalho, tomamos de assalto os estúdios da rádio Arapuan, com zero armas, a não ser as palavras inflamadas do nosso vate.
E pusemos no ar uma conclamação a favor da revolução cubana e sentando o cacete nos latifundiários da Várzea (vale lembrar aqui que os Ribeiro Coutinho eram os donos da emissora).
O locutor que vos fala era o único do grupo que conhecia por dentro o funcionamento da rádio para a qual escrevia e lia umas notas sobre cinema. Otinaldo era então o homem forte da rádio, defendendo ali posições de empedernido democrata.
Tive, muitos anos depois, a oportunidade de apresentar-lhe minhas fajutas desculpas pela bravata. Agora peço a você legítimas desculpas por essas compridas linhas.
Abração camarada do seu Vladimir
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