SILVIO OSIAS
Perdemos Eva Wilma. Estamos de luto, e eu conto uma pequena história dela com Carlos Zara
Publicado em 16/05/2021 às 13:37 | Atualizado em 30/08/2021 às 20:51
Nós todos, que amamos o que os artistas produzem e que sem a arte não vivemos, estamos de luto.
Neste sábado (15), o Brasil perdeu uma das suas grandes atrizes.
Eva Wilma, 87 anos, morreu de câncer num hospital em São Paulo.
Eva Wilma, que era do teatro, da televisão e do cinema, foi casada com o ator Carlos Zara. E é sobre o casal que quero contar uma pequena história, coisa de uns 30 anos atrás.
Os dois estavam em João Pessoa para apresentar, no Teatro Paulo Pontes, o espetáculo Cartas de Amor.
Era final da tarde, e eu estava no hall do teatro em busca de um convite que havia sido reservado para mim, quando vi Eva Wilma e Carlos Zara chegando.
Sozinhos, procuraram a porta de entrada e desceram em direção ao palco.
A sala estava praticamente escura, havia alguma luz no palco.
Eu os segui e sentei na plateia.
Sabem aquele momento que você sente que deve ser contemplado?
Uma grande atriz, um grande ator, chegando com horas de antecedência para - vou usar a expressão que os músicos usam - "passar o som".
Às vezes, a "passagem do som" é mais rica e mais bonita do que o próprio espetáculo porque revela segredos que a direção deixou de fora. Ou porque desnuda os artistas, as convergências, as divergências, o que eles são de fato.
Em resumo, porque os humaniza ali diante dos nossos olhos.
O cenário, se não estou enganado pelo tempo que me separa dessa experiência, era uma mesa.
O homem numa ponta. A mulher na outra. Cada qual lendo suas cartas.
Vi o que o público que, mais tarde, lota o teatro, não vê. Nem ao menos imagina a infinita grandeza contida naquilo.
Eles liam partes do texto. Discutiam um pouco, discordavam, achavam que ainda não estava bem.
Registrei na minha memória o que sabia que seria único. Que, ao menos diante dos meus olhos, jamais se repetiria.
Vou confessar:
Foi tão belo, foi tão deslumbrante vê-los ali, Eva Wilma e Carlos Zara - fundidos entre os grandes artistas que eram e as pessoas de carne e osso iguais a nós - que, no momento em que eles se retiraram do cenário e desceram para o camarim, fui para casa e não mais voltei.
Anos depois, quando ele já não era mais vivo, contei para ela essa história, nos bastidores de uma entrevista na TV Cabo Branco.
E ela, com lágrimas nos olhos, me disse:
"Como eu o amei!".
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