SILVIO OSIAS
Quem ainda ouve Sérgio Ricardo? Eu ouço e gosto muito!
Publicado em 29/06/2017 às 4:48 | Atualizado em 31/08/2021 às 7:44
O nome de batismo é João Mansur Lutfi, paulista de Marília, filho de libanês. O nome artístico, Sérgio Ricardo.
Pianista, compositor, diretor de cinema. Começou na Bossa Nova e dela saiu para um repertório de canções engajadas. Fez sambas refinados, como bom bossanovista, e incursionou pela música nordestina, algo surpreendente para um artista com sua formação e sua origem.
Com raras exceções, o público de hoje não o conhece. Dos ouvintes do seu tempo, acredito que são poucos os que continuam a ouvi-lo. Estou entre eles.
Faz Escuro, Mas Eu Canto. Era este o nome do show de Sérgio Ricardo com o poeta Thiago de Melo que vimos no Teatro Santa Roza nos anos 1970. O título dizia tudo. O homem que compôs Zelão cantava o que era possível naquele tempo.
No meio do espetáculo, apanhava o público de surpresa ao interpretar o Hino à Bandeira. Como se quisesse dizer que o Brasil era maior do que o momento histórico em que vivíamos. A ditadura passaria e permaneceria a beleza do hino que fala do afeto que se encerra em nosso peito juvenil.
Dom José Maria Pires estava na plateia, e Thiago de Melo jogou uma rosa para o arcebispo.
Tenho muitas lembranças de Sérgio Ricardo. A mais remota é a do episódio de Beto Bom de Bola, no Festival da Record de 1967. Foi ali que o vi pela primeira vez. Irritado com as vaias, o músico quebrou o violão, atirou o instrumento na plateia e foi eliminado da disputa. A história está no documentário Uma Noite em 67.
Mas prefiro outras lembranças: das muitas audições em discos e das poucas vezes em que pude vê-lo no palco. Melodista inspirado, letrista sensível, intérprete marcante, Sérgio Ricardo está presente com seu talento de autor e sua bela voz na música popular que os brasileiros produziram nos anos 60 e 70 do século passado, mesmo que não tenha obtido grande sucesso.
Sérgio Ricardo não gravou muito. Na sua discografia, a qualidade se sobrepõe à quantidade. Como diretor de cinema, também realizou poucos filmes. Sempre gostei imensamente do título de um deles: Juliana do Amor Perdido. Em A Noite do Espantalho, trabalhou com os pernambucanos Alceu Valença e Geraldo Azevedo e filmou em Nova Jerusalém. A trilha deste filme é primorosa.
Quando se fala do seu vínculo com o cinema, é necessário mencionar a parceria com Glauber Rocha na trilha de Deus e o Diabo na Terra do Sol. O filme de Glauber não seria o mesmo sem aqueles temas que parecem compostos por um nordestino, jamais por um paulista filho de libanês.
Sérgio Ricardo fez 85 anos agora em junho.
Bom motivo para reouvi-lo.
Ou conhecê-lo.
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