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SILVIO OSIAS

RETRO2023/Edu Lobo e Marcos Valle

Publicado em 27/12/2023 às 8:26


                                        
                                            RETRO2023/Edu Lobo e Marcos Valle

Edu Lobo e Marcos Valle, dois grandes da música popular brasileira que fizeram 80 anos em 2023. Claro que estão na minha retrospectiva do ano.

Quem faz 80 anos neste 29 de agosto de 2023 é Eduardo de Góes Lobo. Ou, simplesmente, Edu Lobo.

Em 1965, Edu Lobo tinha somente 22 anos quando Elis Regina venceu o festival de MPB cantando Arrastão, dele em parceria com Vinícius de Moraes.

Em 1967, tinha 24 quando ficou em primeiro lugar no III Festival da Música Popular Brasileira com Ponteio, melodia sua, letra de José Carlos Capinan. Disputou com Gilberto Gil (Domingo no Parque), Chico Buarque (Roda Viva) e Caetano Veloso (Alegria, Alegria).

1967, um ano crucial para a MPB. No festival da Record, Edu Lobo, Caetano Veloso, Chico Buarque e Gilberto Gil conquistaram dimensão nacional. No FIC, da Globo, quem se projetou foi Milton Nascimento cantando Travessia, da sua parceria com Fernando Brant.

Caetano, Chico, Edu, Gil, Milton. Cinco compositores. Cinco gigantes da música popular brasileira. O curioso é que Edu não quis seguir o caminho dos outros. Largou o sucesso que o festival trouxe e foi estudar música nos Estados Unidos. Arranjo, regência.

O álbum Sergio Mendes Presents Lobo ainda pode ser visto como uma tentativa que não deu certo de se projetar no mercado americano. O disco seguinte, Cantiga de Longe, não mais.

Na volta ao Brasil, há o álbum que ficou conhecido como Missa Breve, em 1973, e os arranjos que, naquele ano, Edu escreveu para o censuradíssimo disco Calabar, O Elogio da Traição, de Chico Buarque.

Em 1976, Limite das Águas. Em 1978, Camaleão e o circuito do Projeto Pixinguinha com o quarteto vocal Boca Livre (o show, inesquecível, passou uma semana em cartaz no nosso Teatro Santa Roza, em João Pessoa). Em 1980, Tempo Presente. Quatro discos autorais com canções inéditas, três gravadoras (Odeon no primeiro, Continental no segundo, PolyGram nos dois últimos), e a confirmação de que Edu correria por fora, respeitado, admirado, reconhecido, mas à margem do sucesso.

Em 1981, o disco em parceria com Tom Jobim foi um verdadeiro presente para Edu Lobo porque, entre os compositores da sua geração, ninguém era mais jobiniano do que ele. Edu cantando Tom, Tom cantando Edu, os dois cantando juntos, piano, violão, o sopro inconfundível do flugel de Márcio Montarroyos. Um negócio absolutamente soberbo.

1983 marcou o início de uma nova etapa da trajetória de Edu: o início da parceria com Chico Buarque. Edu compondo as melodias, Chico fazendo as letras, e um disco antológico, O Grande Circo Místico. Música de balé, canções sofisticadíssimas entregues às vozes de Milton Nascimento, Gal Costa, Tim Maia, Gilberto Gil, Simone, Zizi Possi.

Nos anos seguintes, sempre voltados para o teatro, Edu e Chico fariam outros trabalhos juntos. Não será impreciso afirmar que a parceria com Edu levou Chico a "entortar" o seu modo de compor. O bom é que as canções atravessaram o tempo e, hoje, estão totalmente incorporadas ao repertório dos dois autores.

O pai de Edu, o compositor Fernando Lobo, era pernambucano. Na infância e na adolescência, Edu passava férias no Recife. Essas temporadas pernambucanas foram responsáveis pela presença da música nordestina no seu cancioneiro. Influências que se juntaram à música do Rio de Janeiro, sobretudo a bossa nova.

O primeiro disco de Edu Lobo é de 1964, com arranjos de Luiz Eça e acompanhamento do grande Tamba Trio. Agora, aos 80, ele está preparando, com convidados, uma espécie de antologia comemorativa. Edu tem uma discografia extensa (nos últimos anos, lançou vários discos pelo selo Biscoito Fino) para quem "fugiu" do sucesso. Seu cancioneiro pode não ser numericamente tão vasto, mas é belo e imprescindível à moderna canção popular do Brasil.

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					RETRO2023/Edu Lobo e Marcos Valle

Marcos Valle (Foto/Divulgação) faz 80 anos neste 14 de setembro de 2023. Com nome associado à segunda geração da bossa nova, ele quase sempre não é bossanovista. E, se nem sempre é identificado e reconhecido por um público numeroso de ouvintes de música popular, com absoluta certeza é um dos grandes compositores do Brasil.

O conjunto de discos que gravou na Odeon, entre os anos 1960 e 1970, é a melhor síntese da música de Marcos Valle. Esses álbuns começam na bossa nova do jovem compositor e registram o caminho por ele percorrido. Têm a bossa irresistivelmente sedutora de Sambade Verão, mas têm também a imensa beleza da toada Viola Enluarada. E seguem pelo pop, pelos ritmos do Nordeste, pela soul music e até por influências que o músico recebeu do rock progressivo dos anos 1970.

Marcos Valle tanto se rendeu à canção de protesto da sua juventude, quando fez Terra de Ninguém, quanto à música de academia dos anos 1980, época em que a sua Estrelar era considerada sinônimo de alienação e exacerbado comercialismo pelos ouvintes mais exigentes da MPB. É necessário lembrar, no entanto, que, fazendo uma ou outra, nunca abriu mão da assinatura que o colocou no lugar em que está entre os autores de música popular da sua geração.

Em seu piano, acústico ou elétrico, e como bom filho da primeira geração da bossa nova, Marcos Valle é sofisticado nas harmonias a que recorre e nas melodias que cria. Mas tem também o domínio das coisas simples.

Foi assim, fundindo o sofisticado com o simples, que, há uns 50 anos, Boni, o então superpoderoso da Globo, pediu ao compositor uma música para o elenco da emissora cantar num vídeo de final de ano. O resultado: Um Novo Tempo, que, com letra de Nelson Motta e Paulo Sérgio Valle, há décadas está na memória afetiva de milhões de brasileiros, sem que estes saibam quem é o autor da melodia.

Ao descolar sua música da bossa nova, Marcos Valle manteve suas antenas ligadas nas transformações pelas quais a música popular tem passado. A bossa lhe deu prestígio internacional nos Estados Unidos. Mais tarde, foi bater no mercado de discos e shows do Japão.

Samba de Verão virou Summer Samba ou So Nice. Se Os Grilos é Crickets Sing For Anamaria, Eu Preciso Aprender a Ser Só, uma das suas grandes canções, é If You WentAway em devastadora performance vocal de Sarah Vaughan, uma das maiores cantoras do jazz. Sarah Vaughan gostou tanto de Marcos Valle que o convidou para participar do disco em que ela se debruça sobre o repertório dos Beatles, ele fazendo o trecho em português de Something.

Na fotografia de Marcos Valle aos 80 anos, temos a mistura do homem velho com algo do jovem que, a partir do Rio de Janeiro, um dia fez música para o mundo. Como criador, aliás, Marcos Valle continua muito jovial, dialogando com a música brasileira do presente, quando procura, por exemplo, parceiros como Emicida.

Samba de Verão, Eu Preciso Aprender a Ser Só, Viola Enluarada, Terra de Ninguém, Mustang Cor de Sangue, Black Is Beautiful, Com Mais de 30, Pigmaleão 70, Um Novo Tempo, Estrelar - em Marcos Valle, nada se perde. Tudo é muito bem feito. Tudo tem a marca do grande compositor popular que ele é. Um dos grandes que o Brasil produziu.

Imagem ilustrativa da imagem RETRO2023/Edu Lobo e Marcos Valle

Silvio Osias

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