SILVIO OSIAS
Rita Lee com câncer no pulmão entristece quem é fã da mais completa tradução de Sampa
Publicado em 21/05/2021 às 7:19 | Atualizado em 30/08/2021 às 20:51
A minha primeira lembrança de Rita Lee é dela com aqueles pratos, fazendo vocal, enquanto Gilberto Gil cantava Domingo no Parque, música que lhe deu projeção nacional.
Ao lado dos irmãos Baptista, Arnaldo e Sérgio, ela formava o trio Os Mutantes.
O ano? 1967.
O tropicalismo começava ali, no encontro da música brasileira com o pop/rock que vinha dos Estados Unidos e do Reino Unido.
"Os Mutantes são demais!", disse Caetano Veloso quando acompanhado pelo grupo em Eles, no seu primeiro disco.
Os Mutantes ainda são demais, digo eu agora, mais de 50 anos depois.
"Rita Lee vai passear/20 anos, namorar talvez" - eram versos daquela canção do disco de 1969.
"De bicicleta, de bermuda, mutante, bonita, solta, decidida, cheia de vida, etc. e tal" - foi como Gil cantou lá na frente.
Rita Lee, que Jorge Ben chamou de Rita Jeep, surgiu como aquela garota paulistana fazendo rock de vanguarda com dois rapazes (depois entraram mais dois) no nível do que havia de melhor no mundo.
Digo isso com absoluta convicção e sem qualquer exagero. A descoberta tardia dos Mutantes pelos americanos e pelos ingleses somente confirma o que estou afirmando.
Houve tentativas de penetração no mercado internacional e o casamento de Rita com Arnaldo.
Nos discos finais, no quinteto e não mais no trio, os desencontros se sobrepunham aos encontros. E a ruptura foi traumática e nunca explicada de forma convincente.
Sem Rita, Os Mutantes do rock progressivo estão longe de quando faziam rock não progressivo com ela.
Nos anos 1970, ao lado da banda Tutti Frutti, Rita Lee de repente se transformou numa superstar.
Fruto Proibido é um dos melhores discos do rock nacional.
Ovelha Negra era um mega sucesso.
Aí veio Roberto de Carvalho, companheiro na música e no casamento, homem das guitarras, dos teclados e parceiro nas composições.
Com ele, ela cresceu ainda mais, indo além do rock.
"Meu bem, você me dá água na boca".
Um hit atrás do outro. E a consolidação de um repertório que permanece vivo na memória de milhões de pessoas, agora ressurgindo em forma de remix.
Nesta quinta-feira (20), tivemos a notícia de que Rita Lee está com câncer no pulmão, um tipo muito associado ao tabagismo.
Já está tratando com imunoterapia e radioterapia.
Tomara que dê certo.
Mas não posso deixar de dizer que Rita Lee com câncer no pulmão entristece quem a ouviu (continua ouvindo) com ou sem Os Mutantes.
Rita Lee, que eu vi abrindo o show dos Rolling Stones e saudando assim a sua cidade:
"São Paulo, minha cidade querida, túmulo do samba, berço do rock!".
Rita Lee, em quem Caetano viu a mais completa tradução de Sampa.
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