SILVIO OSIAS
Santo trapalhão foi como Caetano Veloso chamou Renato Aragão
Humorista faz 90 anos nesta segunda-feira, 13 de janeiro de 2025.
Publicado em 13/01/2025 às 7:45 | Atualizado em 13/01/2025 às 8:44
"Eu sou Renato Aragão, santo trapalhão/Eu sou Mussum, sou Dedé/Sou Zacarias, carinho/Pássaro no ninho...".
Está na letra de Jeito de Corpo, samba de Caetano Veloso. A gravação é do álbum Outras Palavras, lançado em 1981.
Lembro da música de Caetano nesta segunda-feira, 13 de janeiro de 2025, o dia em que o humorista cearense Renato Aragão completa 90 anos.
Vi Renato Aragão, já com Dedé Santana, pela primeira vez ainda na infância. Eles protagonizavam uma comédia musical chamada Na Onda do Iê-Iê-Iê. O filme, de 1966, também tinha Wanderley Cardoso no elenco.
Tem muita coisa no caminho deles antes da formação do quarteto Os Trapalhões e até que este se transformasse num dos grandes fenômenos da televisão brasileira.
Renato Aragão, Dedé Santana, Mussum e Zacarias - os quatro estavam juntos na Tupi, na primeira metade da década de 1970, mas o sucesso avassalador ocorreu a partir da segunda metade daquela década, quando o grupo foi para a Globo.
O humorístico Os Trapalhões ia ao ar aos domingos, às sete da noite, e era seguido pelo Fantástico, às oito, uma dobradinha imbatível.
Adultos e crianças se reuniam religiosamente diante da televisão para ver Os Trapalhões, e ninguém se dava conta do quanto era politicamente incorreto o humor do quarteto.
A verdade é que não se falava em politicamente incorreto naquela época, e pouco importava a grosseria das piadas machistas, racistas e homofóbicas do programa.
Mas a intelligentsia não gostava muito dos Trapalhões. Foi preciso que artistas como Caetano Veloso dissessem que gostavam para que as coisas começassem a mudar.
Até Chico Buarque acabou se dobrando aos Trapalhões. Em 1981, foi parceiro deles - no cinema e num disco - na comédia musical Os Saltimbancos Trapalhões.
Um ano antes, o cineasta Sílvio Tendler se debruçou sobre o sucesso do quarteto ao realizar o documentário O Mundo Mágico dos Trapalhões.
Os Trapalhões eram sucesso na televisão e no cinema. Faziam dois filmes por ano, e as pessoas enfrentavam filas intermináveis para vê-los nos cinemas de rua.
Lançados a partir da segunda metade dos anos 1970 e durante a década de 1980, alguns dos filmes dos Trapalhões estão entre as maiores bilheterias do cinema brasileiro.
Ver os Trapalhões no cinema era programa de férias, tem isso guardado na memória afetiva quem foi criança e adolescente no tempo em que eles faziam sucesso.
Os Trapalhões começaram a "morrer" na primeira metade da década de 1990. Primeiro, em março de 1990, com a morte de Zacarias, aos 56 anos. Depois, em julho de 1994, com a morte de Mussum, aos 53 anos.
A força dos Trapalhões estava na química que havia entre seus quatro integrantes. Não era mais a mesma coisa somente com Renato Aragão e Dedé Santana.
Renato Aragão era o líder e o homem de negócios à frente da produtora de cinema, mas não havia mais o encontro do humor do seu personagem, Didi Mocó, com o talento individual de cada um dos integrantes do quarteto.
A "morte" dos Trapalhões foi melancólica. O fim do quarteto, o fim do programa, o fim do fenômeno. E as tentativas frustradas do reencontro com o sucesso.
Renato Aragão faz 90 anos fora das telas, mas lembrado e reverenciado. Triste, muito provavelmente, embora Didi Mocó siga amado por milhões de brasileiros.
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