Silvero Pereira, que era uma criança viada, se emociona e emociona ao dizer que sempre foi paquita

As primeiras lembranças que tenho de Xuxa são da modelo que namorava com Pelé. Logo depois, ela surge no filme Amor, Estranho Amor, de Walter Hugo Khoury, cineasta de quem sempre gostei muito. No início de 1987, o final do Xou da Xuxa era um momento de correria dentro da novíssima TV Cabo Branco, uma espécie de aviso à equipe de que a primeira edição do jornal local estava prestes a entrar no ar.

Sei que Xuxa era um fenômeno, mas, estando entre os 25 e os 30 anos, nada daquilo me interessava. As crianças em transe diante da Rainha dos Baixinhos era uma imagem que me assustava um pouco. Eu pensava que talvez ficassem todas alienadas num futuro próximo, mas hoje vejo que era um equívoco meu. Xuxa, como Os Trapalhões uma década antes, não haveria de ser tão nociva.

A falta de interesse por Xuxa tinha a ver com a minha idade. Em seguida, passei a criticá-la fortemente porque ela conseguiu tirar de circulação o filme de Walter Hugo Khoury. Havia, sim, a justificativa de que, para a Rainha dos Baixinhos, não ficava bem ser vista numa cena de sexo com uma criança, mas Xuxa de censora era difícil de assimilar num país cuja nova Constituição acabara com a censura.

O tempo passou. Xuxa Meneghel amadureceu e deu sinais claros disso quando deixou de brigar com o filme de Khoury. Um dia desses, vi Gilberto Gil entrevistando Xuxa e gostei muito das falas dela. Agora, se aproxima dos 60 anos. O aniversário é no dia 27 de março.

No Altas Horas, Serginho Groisman homenageou a aniversariante. O depoimento do ator Silvero Pereira - o Lunga de Bacurau - chamou minha atenção. Silvero (Foto/Reprodução) disse que foi uma criança viada, que imitava as paquitas e que sofreu bullying quando descoberto pelos colegas.

A fala de Silvero trouxe Xuxa para junto das dores (ele usou a palavra dor) da comunidade LGBTQIA+ num mundo preconceituoso e violento. No Altas Horas, Silvero Pereira estava emocionado, emocionou Xuxa e muitos dos que acharam admirável o seu depoimento. Tocante ver o ator confessar que sempre foi uma paquita.