Tabajara é palavra que merece respeito

O uso pejorativo da palavra tabajara vem do Casseta e Planeta. Era um programa de humor, e os programas de humor costumavam ser politicamente incorretíssimos. Hoje são menos por causa do avanço de muitas pautas da sociedade. No humorístico da Globo, tabajara era sinônimo de algo de má qualidade, falso, ruim, tosco, duvidoso. E, assim, com esse caráter, o termo acabou sendo adotado por milhões de pessoas.

Na semana passada, por acaso, o senador Marcos Do Val (Foto/Reprodução Facebook) trouxe a palavra tabajara para o centro do debate político nacional. A proposta golpista que ele diz ter ouvido do então deputado federal Daniel Silveira, na presença do então presidente Jair Bolsonaro, foi logo chamada de tabajara. Um golpe tabajara, um golpismo tabajara.

O ministro Alexandre de Moraes, que seria a primeira vítima do plano sugerido por Daniel Silveira, usou a palavra de modo pejorativo, preconceituoso. Não só ele. Para nossa surpresa, excelentes comentaristas da GloboNews também usaram. Golpe tabajara pra lá, golpismo tabajara pra cá. Até que, na sexta-feira (03) à noite, Mauro Paulino, da equipe da emissora, citou um texto que fazia um alerta sobre a má utilização da palavra.

Muito simples. Tornar tabajara sinônimo de uma coisa que não vale nada, que não presta, que não tem consistência, ofende uma das etnias dos povos originários do Brasil. Pode até ter sido engraçado na época do Casseta e Planeta e suas Organizações Tabajara. Deixou de ser. Destoa do tempo presente e suas questões cruciais.

Os povos Tabajara viveram (e ainda vivem) no litoral nordestino do Brasil, inclusive na Paraíba, de onde me junto às vozes que discordam do que fizeram o ministro e alguns jornalistas. Para nós, em primeiro lugar, Tabajara é uma etnia e, como tal, deve ser tratada com respeito. Por causa da etnia, Tabajara é o nome dado a uma emissora de rádio de João Pessoa, no ar desde 1937. E, não por acaso, a orquestra da rádio foi chamada de Tabajara.

A Orquestra Tabajara chamou tanto a atenção dos muitos artistas de projeção nacional que por aqui passavam que, no início dos anos 1940, o maestro Severino Araújo acabou levando a big band para o Rio de Janeiro. A Tabajara e seu maestro se transformaram em verdadeiras lendas da música popular brasileira.

Portanto, deixemos de associar tabajara ao que não presta. É preconceituoso, é desrespeitoso, pega mal. Não combina com os exemplos de cidadania que devemos dar. Que se encontre, urgentemente, outra palavra para classificar o plano golpista que o então deputado Daniel Silveira, diante do então presidente Jair Bolsonaro, apresentou ao, por enquanto, ainda senador Marcos Do Val.