SILVIO OSIAS
Talquei? O presidente Bolsonaro prefere MC Reaça a João Gilberto?
Publicado em 09/07/2019 às 6:36 | Atualizado em 30/08/2021 às 20:40
Mais que anti-JK, Bolsonaro é o antipresidente bossa nova, o retrato da fissura no destino brasileiro, o vácuo apontado contra os indígenas, os negros, os gays, os professores, as florestas, os rios. Claudio Leal, na Folha
Tom Jobim, o maior compositor popular do Brasil, morreu no dia oito de dezembro de 1994.
O presidente Itamar Franco se pronunciou oficialmente em nome dos brasileiros e da presidência da República.
João Gilberto, o músico que criou a Bossa Nova e, como Tom, projetou o Brasil internacionalmente, morreu no sábado (06) passado.
Li em O Globo que, de saída para um evento, o presidente Jair Bolsonaro foi abordado por jornalistas e assim se manifestou:
“Uma pessoa conhecida, lamento. Nossos sentimentos à família, talquei?”.
Semanas atrás, Tales Volpi, o MC Reaça, se matou depois de bater na namorada.
Numa rede social, Bolsonaro disse o seguinte:
"Tales Volpi nos deixou no dia de ontem. Tinha o sonho de mudar o país e apostou em meu nome por meio de seu grande talento. Será lembrado pelo dom, pela humildade e por seu amor pelo Brasil. Que Deus o conforte juntamente com seus familiares e amigos".
É claro que, aos 88 anos e com a saúde fragilizada, João Gilberto não voltaria a gravar e fazer shows. A gigantesca contribuição que, com sua arte, ele deu ao Brasil já estava sedimentada há muito tempo. Sob essa perspectiva, embora nos entristeça, a morte de João, naturalíssima, segue o curso normal da vida. Mas é preciso reconhecer que há algo de fortemente simbólico no fato de que o artista nos deixa num instante em que o país parece mergulhar numa era de tanta ignorância.
A comparação entre o laconismo do presidente Bolsonaro na morte de João Gilberto e a homenagem na do MC Reaça é de uma eloquência assustadora como comentário sobre o atual momento brasileiro.
O Brasil de João Gilberto não deixa nunca de ser uma promessa de vida nos nossos corações.
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