SILVIO OSIAS
Tancredo Neves, 40 anos esta noite
Agonia do presidente eleito começou na véspera da posse e se estendeu por 38 dias.
Publicado em 21/04/2025 às 16:10

Na noite daquele 21 de abril de 1985, o Fantástico ainda estava no ar quando o jornalista Antônio Brito, porta-voz da Presidência da República, anunciou:
"Lamento informar que o Excelentíssimo Senhor Presidente da República, Tancredo de Almeida Neves, faleceu esta noite no Instituto do Coração, às 22h23m".
O Hino Nacional, numa versão lenta para voz e piano, que Fafá de Belém havia gravado para o dia da posse, fechou o Fantástico como um canto fúnebre.
A morte de Tancredo Neves me traz outras lembranças musicais. Uma ficou na memória de milhões de pessoas: uma versão instrumental de Coração de Estudante.
O que muita gente até hoje não sabe é que Coração de Estudante - melodia de Wagner Tiso - foi composta para o documentário Jango, de Sílvio Tendler.
No início de 1984, quando Jango chegou aos cinemas, a canção já tinha a letra escrita por Milton Nascimento e estava no álbum ao vivo que Bituca lançou em 1983.
Mas foi o uso que a Globo fez largamente na cobertura do funeral de Tancredo Neves que inseriu em definitivo Coração de Estudante na memória dos brasileiros.
O outro momento musical que associo à morte de Tancredo Neves é a Grande Fantasia Triunfal Sobre o Hino Nacional, do compositor estadunidense Gottschalk.
Louis Moreau Gottschak era um músico nascido em New Orleans que viveu no Brasil Império e morreu de malária, no Rio de Janeiro, com apenas 40 anos.
A Globo usou a Fantasia Triunfal na manhã de 22 de abril, no momento em que o avião com o corpo de Tancredo Neves levantou voo em São Paulo rumo a Brasília.
Tancredo Neves foi levado para o Hospital de Base de Brasília na noite de 14 de março de 1985. Na manhã seguinte, não pôde tomar posse como o primeiro presidente civil eleito - ainda que pela via indireta - depois do ciclo militar iniciado com o golpe de 1964.
Com o agravamento do seu quadro, Tancredo Neves foi transferido para o Instituto do Coração, em São Paulo. Sua agonia se estendeu por longos 38 dias.
Multidões acompanharam presencialmente os serviços fúnebres de Tancredo Neves: em São Paulo, Brasília, Belo Horizonte e, por fim, em São João del Rey.
Em Brasília, diante do corpo de Tancredo Neves, finalmente o general Ernesto Geisel e o deputado Ulysses Guimarães se encontraram. Ulysses, certamente, o maior artífice da redemocratização. Geisel, o presidente militar que deu início à abertura política.
"Liberdade é o outro nome de Minas" - disse Tancredo Neves no Palácio da Liberdade, quando tomou posse, em março de 1983, como governador de Minas Gerais.
Ali estava o Tancredo Neves que já sonhava com a Presidência. Político de trajetória longa, habílissimo articulador, era um moderado, mas nunca defendeu a ditadura.
No PMDB, se a eleição presidencial fosse direta, Ulysses Guimarães era o plano A. Se fosse indireta, como acabou sendo, a melhor opção era Tancredo Neves.
Durante a sua agonia, no leito do hospital, inconformado com o que o destino lhe reservara, Tancredo teria dito a Aécio Neves: "Eu não merecia isto".
Com as diretas derrotadas pelo parlamento, Tancredo Neves encheu de esperança os que sonhavam com a volta da democracia. Sua morte aos 75 anos foi uma tragédia brasileira naquele 21 de abril de 1985, feriado de Tiradentes. 40 anos esta noite.
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