SILVIO OSIAS
Tinhorão era um reacionário como Ariano, mas ninguém pode negar sua importância como pesquisador musical
Publicado em 04/08/2021 às 7:33 | Atualizado em 30/08/2021 às 20:48
O crítico de música e pesquisador musical José Ramos Tinhorão (Foto: acervo Instituto Moreira Sales) morreu nesta terça-feira (03) em São Paulo.
A causa da morte foi pneumonia.
Tinha 93 anos e há muito tempo estava afastado da atividade crítica.
Amado por uns, odiado por outros, foi uma figura de notável importância em sua área.
Direi o que penso de Tinhorão.
Quando lembro dele, lembro de Ariano Suassuna.
Eram muito parecidos no reacionarismo estético e no nacionalismo exacerbado. Digamos que eram dois reacionários de esquerda (isso existe, sim!)
Como Ariano, Tinhorão não aceitava nem Tom Jobim.
Da Bossa Nova pra cá, o crítico não assimilava o trabalho de nenhum desses grandes nomes da música popular brasileira.
A estes, destinava os piores e mais ácidos adjetivos em seus artigos no saudoso Caderno B do Jornal do Brasil, no qual manteve coluna de crítica musical por muitos anos.
Às vezes surpreendia. Lembro que gostou muito do álbum Cinema Transcendental, de Caetano Veloso. Ou do Essa Mulher, de Elis Regina. Ou do Dança das Cabeças, de Egberto Gismonti e Naná Vasconcelos.
Mas, no geral, tinha como alienados da realidade brasileira todos esses artistas revelados a partir dos anos 1960 e batia pesado em qualquer um deles.
De todo modo, era um luxo ter Tinhorão para ler. Sua crítica enriquecia o debate sobre a produção musical brasileira, mesmo que detestássemos o que ele dizia.
O Caderno B foi fundamental em nossa formação. O reacionarismo estético de Tinhorão se opunha à contemporaneidade de Tárik de Souza. Como, na crítica de cinema, Ely Azeredo era o oposto de José Carlos Avellar, e líamos prazerosamente os dois.
E há o Tinhorão pesquisador da história mais remota das manifestações musicais do Brasil. Este está nos muitos livros que escreveu. Alguns, disponíveis atualmente no catálogo da Editora 34.
Tinhorão me aborreceu muito com seus artigos no Jornal do Brasil, mas me foi imprescindível a leitura da sua Pequena História da Música Popular Brasileira, da Modinha à Canção de Protesto.
José Ramos Tinhorão. J.R. Tinhorão. Ou, simplesmente, Tinhorão. É mais um pensador que o Brasil mergulhado na ignorância perde.
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