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SILVIO OSIAS

Tom Jobim "batia o ponto" numa farmácia. Bom lugar para vê-lo

Publicado em 20/07/2020 às 8:03 | Atualizado em 30/08/2021 às 20:35

Revi Bruna Lombardi entrevistando Tom Jobim.

Creio que em 1993. Talvez na TV Manchete.

Ela, linda e sedutora.

Ele, cheio de charme quando o assunto era sedução.

Nesse Brasil insano, é sempre bom revê-lo, ouvir suas conversas.

Foi numa dessas entrevistas de televisão que descobri: Tom "batia o ponto" numa farmácia.

Sim. A Farmácia Piauí, no Leblon.

Aberta 24 horas.

Desde então, botei na cabeça: vou à Farmácia Piauí cumprimentá-lo.

Maluquice de quem admira tanto o outro que quer vê-lo de perto. Puxar uma conversa. Sei lá.

Vi Tom Jobim ao vivo uma vez.

Ele, a família e os amigos no palco do Teatro Guararapes, no Recife.

Julho de 1991. Uma noite incrível!

Mas não deu para ir ao camarim. Nem sei se era possível. Não havia ninguém que pudesse me introduzir.

Na farmácia, seria diferente.

Quando estava no Rio, o cara sempre ia lá.

Será que Tom era hipocondríaco, desses que frequentam farmácia?

Frequentam, ficam amigos do dono, dos empregados, perguntam pelas novidades (novidades aqui são medicamentos).

São capazes até mesmo de passar para o outro lado do balcão. O lado de dentro.

Talvez atender ao cliente, sugerir algum remédio. Quem sabe?

Pois bem. Novembro de 1994.

Os Rolling Stones anunciaram sua primeira passagem pelo Brasil.

Turnê Voodoo Lounge.

Shows dali a dois meses, em São Paulo e no Rio.

Pronto. Chegou a hora. Dessa vez, vou à Farmácia Piauí.

Se Tom Jobim "bate o ponto", eu darei um expediente completo só para estar com ele.

No dia oito de dezembro, passei na Mesbla logo cedo para pegar meus ingressos. A loja vendia para todo o país num tempo sem Internet.

Saí com o bolso cheio de ingressos para todos os shows no Rio e em São Paulo. Pensávamos que eles não voltariam nunca mais.

Na hora do almoço, entrei numa loja de discos.

Estava tocando o CD Passarim, a capa exposta num lugar bem visível.

Lembro até da música. Borzeguim.

"Não quero fogo, quero água/Deixa o mato crescer em paz" - dizia a letra, sempre atualíssima.

Eu ainda não sabia.

Soube naquele momento que não havia mais Farmácia Piauí no meu roteiro de viagem.

Tom Jobim morrera naquela manhã num hospital em Nova York.

Extirpou um tumor na bexiga e não resistiu ao pós-operatório.

A sua morte foi como a derrubada de uma floresta, li num jornal do dia seguinte.

Imagem ilustrativa da imagem Tom Jobim "batia o ponto" numa farmácia. Bom lugar para vê-lo

Silvio Osias

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