SILVIO OSIAS
Um assassinato, um revólver em cima de um bolo e essa tragédia que cai sobre todos nós
Publicado em 12/07/2022 às 10:19
Um bolo de aniversário pode ser uma coisa pequena, de pouca importância.
Um revólver em cima de um bolo de aniversário pode ser uma coisa pequena? Nem tanto. Mas, digamos que sim. Afinal, o calibre é 38, e o aniversariante está fazendo 38 anos.
Quando, no entanto, se sabe o nome do aniversariante, quando suas posturas públicas são bem conhecidas - aí esse revólver em cima de um bolo deixa de ser uma coisa pequena. Passa a ser uma coisa grande. Muito grande.
Pior ainda quando a foto do bolo com o revólver em cima vai para as redes sociais horas depois de um assassinato. O assassinato de um adversário político do aniversariante por um aliado do...aniversariante.
A cena principal é a do assassino invadindo uma outra festa de aniversário (não a do bolo com o revólver em cima) e executando um homem que comemorava seus 50 anos. A motivação: as diferenças políticas. Mais: a intolerância, o ódio.
A outra cena - a do bolo com o revólver em cima - não é a principal. Mas é importantíssima. Não pode ser desprezada. Não pode ser banalizada nesse Brasil de tantas banalizações.
Banalização. O mal foi banalizado no Brasil. As coisas inaceitáveis foram banalizadas. Nada ou muito pouco se faz para que elas não sejam mais banais. Para que elas sejam evitadas. Para que elas sejam contidas.
Um homem executa o outro porque um é do cordão azul, o outro é do cordão encarnado. Um não vê o outro como adversário, mas como inimigo, e não enxerga outro caminho a não ser matá-lo.
Horas depois, o cara que foi eleito para importante cargo público resume: briga de final de semana movida a álcool. O crime é banalizado com um leve sorriso nos lábios.
Que tragédia é essa que cai sobre todos nós?
Quem nos salvará dessas trevas?
Li - e concordei com quem escreveu - que já está passando da hora da última chamada. Se é que já não passou.
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