SILVIO OSIAS
Um passeio pelo western e os melhores filmes do gênero
Publicado em 10/07/2016 às 14:13 | Atualizado em 31/08/2021 às 7:48
https://www.youtube.com/watch?v=wHJwDdUxHL4
Meus tios me apresentaram ao western. E me ensinaram algo sobre o gênero: que os americanos eram bons porque tinham poucos tiros e que os italianos eram ruins porque tinham tiros em demasia. Podiam ter dito simplesmente que os americanos, ao contrário dos italianos, eram os originais. O fato é que cresci detestando os westerns produzidos na Itália e nunca consegui gostar deles. Nem mesmo de “Era uma Vez no Oeste”, de Sergio Leone, que tem fãs até entre os mais exigentes e ortodoxos cultores do gênero.
Alguém já disse que enxerga no jazz e no western as mais importantes manifestações da arte produzida nos Estados Unidos. A formação do povo americano passa por elas. Se o jazz é uma forma originalíssima de expressão musical construída pelos negros a partir do contato deles com os instrumentos europeus e de um extraordinário senso de improvisação, o western é um retrato de episódios fundamentais do processo civilizatório da América do século XIX. O gênero se consolidou junto com o próprio cinema e atravessou todo o século XX. Viveu seus anos de apogeu nas décadas de 1940 e 1950 e depois entrou em decadência.
O maior cineasta dos Estados Unidos é o mais importante realizador de westerns. Com seus filmes, John Ford estabeleceu fundamentos e conduziu transformações. Se aqueles estão definidos em “No Tempo das Diligências”, estas estão colocadas em “O Homem que Matou o Facínora”. Pouco mais de duas décadas separam um do outro. Entre eles, há, pelo menos, “Paixão dos Fortes”, a trilogia do forte apache (“Sangue de Heróis”, “Legião Invencível” e “Rio Grande”) e “Rastros de Ódio” (veja o trailer), que muitos consideram a obra-prima do gênero, mesmo que o sentimento antiamericanista costume classificá-lo como racista.
Uma antologia do western não excluirá “Rio Vermelho” e “Onde Começa o Inferno”, de Howard Hawks, nem “Matar ou Morrer”, de Fred Zinnemann, e “Os Brutos Também Amam”, de George Stevens. Uma escolha mais pessoal talvez inclua “Um de Nós Morrerá”, de Arthur Penn”, e “Johnny Guitar”, de Nicholas Ray. Também “Meu Ódio Será Sua Herança”, que Sam Peckinpah realizou depois que os italianos entraram no gênero. Peckinpah envolve seus personagens com o paroxismo da violência num mundo em que parece não haver mais lugar para eles. Mostra, assim, a passagem para um novo estágio civilizatório e ainda comenta a decadência do western.
Americano que conquistou a fama como ator dos westerns de Sergio Leone, Clint Eastwood acabou fazendo o que não estava em nenhuma previsão. A partir da década de 1970, se consolidou como diretor de cinema e, entre seus filmes, estavam westerns que remetiam mais à tradição do que às experiências italianas. Chegou ao topo quando realizou “Os Imperdoáveis”. O filme recuperou o gênero com méritos que o colocam entre os grandes. Os fundamentos do western foram mantidos, mas o tema da violência foi reciclado por Eastwood. Apesar da dedicatória a Leone, “Os Imperdoáveis” tem pouco tiros.
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