SILVIO OSIAS
Uma Mônica Salmaso inusitada e cheia de graça faz Tim Maia no Prêmio da Música Brasileira
Cantora paulistana se apresentou com Chico César e Alceu Valença no Municipal do Rio.
Publicado em 13/06/2024 às 7:55 | Atualizado em 14/06/2024 às 7:07
Theatro Municipal do Rio de Janeiro, quarta-feira, 12 de junho de 2024. A edição de número 31 do Prêmio da Música Brasileira tem Tim Maia como homenageado. O PMB é uma iniciativa vitoriosa do empresário José Maurício Machline.
Mônica Salmaso, Chico César e Alceu Valença se encontraram no segundo número da noite. Mônica entrou cantando Canário do Reino. Chico se juntou a ela fazendo A Festa do Santo Reis. E, por fim, Alceu entrou em cena com Coroné Antônio Bento.
Coroné Antônio Bento é a faixa de abertura do primeiro álbum de Tim Maia, lançado em 1970. A Festa do Santo Reis abre o segundo álbum, de 1971. E Canário do Reino é do terceiro disco, de 1972. As três dão conta do diálogo de Tim Maia, que era da soul music, com a música nordestina.
Resgato algo que escrevi em 2020:
"Perguntei a Mônica Salmaso se ela não tem vontade, às vezes, de ser anti-Mônica Salmaso. Mônica ficou surpresa com a pergunta, e eu imediatamente achei que havia sido indelicado com ela. Tentei traduzir de outra forma o meu questionamento, mostrando uma gravação de Arrigo Barnabé com Paulinho da Viola. Um tão diferente do outro. Era disso que eu falava, de Mônica indo a praias que não são as que ela costuma frequentar".
No texto, eu me referia ao encontro de Salmaso com a portuguesa Maria João durante a pandemia, as duas fazendo Blackbird, dos Beatles:
"Ela própria {Mônica} se definiu como a carola da melodia, aquela que tem a necessidade da segurança, de saber onde está pisando, enquanto Maria João, também segundo Mônica, é a liberdade, o salto mortal sem rede, o risco com extrema alegria!".
Mônica Salmaso é uma das grandes cantoras do Brasil. Ela está na estrada desde a segunda metade da década de 1990, quando lançou, com o violonista Paulo Bellinati, a sua versão dos afro-sambas de Baden e Vinícius. Mônica canta excepcionalmente bem e é muito rigorosa na escolha do seu repertório de shows e discos.
Foram, certamente, os méritos que Mônica ostenta que levaram Chico Buarque a escolhê-la como convidada permanente da turnê que o compositor realizou em 2022/23. Dividir o palco com Chico foi um prêmio pela qualidade e pela integridade da trajetória dela.
Mônica Salmaso escolhe as praias que frequenta, e é importante que existam cantoras como ela. Esse rigor e esse epírito seletivo também fazem parte da imensa diversidade da música popular brasileira.
Mas, vou confessar, como admirador e ouvinte que acompanha com atenção a carreira dela, tenho o desejo de vê-la, aqui, acolá, fazendo umas visitas inusitadas a praias que não lhe são usuais. Acredito que foi o que ocorreu no Prêmio da Música Brasileira.
Mônica não é da praia de Tim Maia. Mônica não é da soul music. Mas Mônica visita os ritmos nordestinos. E como Tim Maia gostava de misturá-los com a soul music, alguém teve a ideia de botar Salmaso nessa homenagem ao saudoso Tião. Abençoada ideia.
Mônica entrou no palco do Theatro Municipal cheia de graça e elegância em sua performance de Canário do Reino. Tinha algo da anti-Mônica Salmaso da minha conversa de anos atrás com ela, mas, ao mesmo tempo, era tão Mônica Salmaso, com todo o seu rigor, que nem parecia que ela estava ali cantando Tim Maia. Claro, porque Tim era o salto mortal sem rede.
Chico César entrou como homem do soul, fazendo A Festa do Santo Reis. E Alceu estava em casa com Coroné Antônio Bento, que vem de longe, lá do repertório de João do Vale.
Foi um encontro marcado por beleza e alegria. Mônica até abriu mão do costumeiro rigor que costuma exibir nas performances ao vivo. Dançou, deu pulos. Deve ter sido tomada pelo espírito indomável de Tim Maia. Também pela liberdade de Chico e pelo clown que há em Alceu. Foi lindo de se ver.
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